Indiferentes às polémicas recentes, 5500 fãs dos Arcade Fire receberam a banda canadiana, no Campo Pequeno, em Lisboa, debaixo de uma chuva de aplausos. O concerto repete-se esta sexta-feira.
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Depois de uma receção calorosa à banda canadiana, a energia no Campo Pequeno serenou assim que Win Butler começou a cantar "Age of anxiety", uma das músicas do novo álbum "We", apresentado na noite de quinta-feira, em Lisboa. Milhares de fãs acompanharam o solo do vocalista, que aborda uma era de ansiedade e de consumo de ansiolíticos, de telemóveis em riste com lanterna ligada. Numa viagem catártica, de onde a banda emergia de uma íris que refletia um céu estrelado, momentos de silêncio eram intercalados com gritos e aplausos numa sintonia e cumplicidade perfeita com o público.
Alguns clássicos, como "Neighborhood" ou "Ready to Start", lançados em 2010, ou "After Life", em 2013, conseguiram pôr os fãs todos de pé, euforia que voltava a cada sucesso da banda com duas décadas. "The Lightning I" e "The Lightning II" foram outras das escolhas que puseram o público de várias gerações, dos mais jovens aos que cresceram a ouvir Arcade Fire, em delírio.
O ambiente voltava a acalmar em momentos mais intimistas, como quando o casal fundador da banda atravessou a multidão para chegar a um segundo palco no meio do público. Milhares filmaram o momento com o vocalista a cantar "My body is a cage" empoleirado no piano tocado por Régine. De regresso ao palco principal e, ao final de quase uma hora de concerto intercalado entre momentos mais confessionais e intensos, Win Butler dirigiu-se pela primeira vez ao público: "obrigado por estarem aqui, vocês são incríveis".
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As pandeiretas e os batuques caribenhos levantaram milhares das cadeiras através da histórica banda haitiana Boukman Eksperyans, contratados à última hora para substituir Feist, que abandonou a digressão depois da polémica em que a banda se viu envolvida. A energia contagiante do vocalista Theodore "Lóló" Beaubrun e dos restantes elementos da banda a puxarem pelo público com instrumentos de percussão deixaram a plateia em êxtase.
O concerto foi ainda marcado por vários solos de Régine, como quando subiu ao piano no palco no meio do público para cantar e dançar "Mountains Beyond Mountains", com "Lolo" no palco principal a erguer a bandeira do Haiti, um momento com algum simbolismo para a artista canadiana.
Após um "muito obrigado" em português de Win Butler, a plateia pediu mais e a banda canadiana, que não vinha a Portugal desde 2018, não desiludiu. Despediu-se com a irrepreensível "Wake Up" acompanhada pelo "uô-uô" do público em uníssono e um fã a gritar "és o maior!".
Os Arcade Fire abandonaram o Campo Pequeno com uma batucada, que continuou cá fora pela rua. Os elementos da banda dançaram ao som do batuque, pandeiros e pandeiretas, numa arruada à volta do recinto do Campo Pequeno rodeados pela multidão de fãs e um cordão de segurança. Win Butler despediu-se atirando uma das pandeiretas para o público, ainda eufórico.