Academias não conseguem ser viáveis com as mesmas normas impostas pela DGS para ginásios. Plataforma que une estruturas de todo o país pede revisão antes do início do novo ano letivo
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A um mês de iniciar o novo ano letivo, as escolas de dança ainda não sabem o que o futuro lhes reserva. Várias academias não chegaram a reabrir após o fim do estado de emergência (não se sabe quantas fecharam definitivamente) e as que querem voltar a funcionar pedem regras sanitárias que lhes permitam ter viabilidade financeira.
O alerta parte da Plataforma de Escolas de Dança de Portugal, que juntou estas instituições para reclamar normas específicas para a sua atividade, que ficou dependente das mesmas regras impostas à prática desportiva ou aos ginásios.
Depois de ter conseguido quase sete mil assinaturas numa petição pública, a Plataforma reuniu primeiro com a Direção-Geral de Saúde (DGS) e depois com o Ministério da Cultura, mas as diretrizes novas ainda não estão fechadas. Segundo informação dada ao JN pela ministra Graça Fonseca, estão agora a ser analisadas pela Inspeção-Geral de Atividades Culturais (IGAC), que remeteu esclarecimentos para mais tarde.
70 mil alunos
A Plataforma representa 500 escolas, num universo de 70 mil alunos e 5 mil profissionais, aponta o porta-voz Pedro Fidalgo Marques. A viabilização do negócio depende essencialmente da forma como podem usar o tempo e o espaço.
Tanto o distanciamento de três metros entre alunos, como a obrigatoriedade de intervalos de 20 minutos para desinfeção entre aulas reduziram drasticamente o número de participantes e de aulas lecionadas. Com uma agravante, sublinhou Pedro Fidalgo Marques: na Grande Lisboa, não houve consenso entre as autoridades sobre a hora de encerramento das escolas. Muitas foram obrigadas a fechar às 20 horas. As multas são pesadas.
Acontece que a maioria funciona em regime pós-laboral. Se começarem as atividades às 18 horas e tiverem de assegurar os 20 minutos de desinfeção e encerrar às 20 horas, o negócio fica inviabilizado.
A distância entre alunos é também controversa nas aulas com crianças, acrescenta a Plataforma, que reclama o mesmo distanciamento permitido nas escolas e creches.
António Carvalho, diretor da escola Baila Pasíon, na Póvoa de Varzim, optou por não reabrir até setembro. "Tem de haver um número mínimo de alunos para viabilizar economicamente as escolas e para isso os alunos têm de ter confiança para regressar. No meu caso, 60% das turmas são de danças sociais", acrescenta.
As outras modalidades só lhe permitiram ter cinco alunos no espaço. Ou "se abre com condições ou é melhor não abrir, até porque nenhuma escola quer ser fonte de um novo surto", diz.
Dois para dançar
As regras tornam-se especialmente complicadas nas modalidades de dança a par, onde é impossível assegurar o distanciamento, mesmo havendo uma exceção para os pares coabitantes.
O grupo de trabalho das danças sociais conseguiu determinar que, das 500 escolas, 201 têm este género (onde estão incluídas as modalidades de tango argentino, salsas, bachatas e kizombas), ensinadas por 450 professores e 15 mil alunos.
O mundo virtual não é alternativa. "O online não traz o equilíbrio financeiro às escolas", garante Pedro Marques. António Carvalho corrobora: "A dança obriga a correções e ao toque, não pode ser online."