Os dois repórteres do JN que vão seguir, no Parque da Cidade do Porto, o festival Primavera Sound, Ricardo Fonseca e José Miguel Gaspar, fazem aqui as suas escolhas pessoais - são os espectáculos que não querem perder por nada, mesmo nada, deste mundo.
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Lankum: quinta, 22.05 horas
São pastorais, sombrios, profundamente celtas. Saúda-se a abertura do festival a números bem distantes do consumo ‘mainstream’. Com Lankum descemos aos abismos da tradição irlandesa, povoada de lendas e fantasmas, mas arejamos também com a renovação operada pelos irmãos Ian e Daragh Lynch.
Tropical Fuck Storm: sexta, 21.50 horas
Será das bandas mais cubistas que iremos escutar no Primavera. Trata-se de um supergrupo australiano, com músicos provenientes de The Drones, High Tension ou Mod Con, que cria um som atonal, conflituante e labiríntico, entre vestígios do psicadelismo, do noise e do art punk.
Lana Del Rey: sexta, 23.15 horas
Tem uma fragilidade duvidosa e move-se por terrenos ambíguos, fazendo da tragédia glamour e da paixão uma catástrofe. É a mais cinemática das cantoras presentes nesta edição. Tem disco recente, “Did you know that there's a tunnel…”, e outro no prelo – “Lasso”.
Justice: sexta, 00.55 horas
É das bandas que traz mais “tralha”, segundo José Barreiro, o diretor do Primavera Sound Porto, o que aponta para um espetáculo ao nível do que apresentaram em 2017 no mesmo recinto. Se acrescentarmos que “Hyperdrama”, último registo, diversifica linguagens e temperaturas, podemos contar com o habitual maximalismo, mas também com novas propostas sónicas e cenográficas.
Obongjayar: quinta, 23.40 horas
Atua à mesma hora da cabeça de cartaz SZA, por isso não terá vida fácil. Mas merece um desvio de alguns minutos. O nigeriano radicado em Londres mistura com singularidade o afro beat, a eletrónica e a soul, num registo íntimo e espiritual.
Escolhas do jornalista Ricardo Jorge Fonseca
E Gel, SZA, Arca, Amyl e as Pussy...
Militarie Gun: quinta,18h40
É música pós-hardcore de Los Angeles e explode de um porão trevoso em estilhaços policromados. É punk, é ameaçador, é também melódico, é absolutamente vital.
Amyl & The Sniffers: quinta, 19h40
É novo punk, é estridente, vem da Austrália, atinge-nos na cara uma estalada áspera e magnética de Sugar Ray Robinson. Estiveram cá em 2019 e o seu hype teve a força de um tufão. Em palco, a vocalista Amy Taylor parece estar sempre ligada à tomada de eletricidade.
SZA: quinta, 23h40
É R&B sedutor, pop cheio de sentimento e soul capaz de enfeitiçar até os mais duros headbangers. SZA, a voz negra do disco “SOS”, traduz sentimentos íntimos em sensações universais. Chegará ao Porto, onde nunca esteve, com o brilho de uma supernova.
Gel: sábado, 17h45
É, de longe, a banda mais pesada de todo o Primavera Sound 2024 – e a que traz os temas mais curtos: "Only constant", o disco de 2023, tem dez canções e dura apenas 17 minutos. É hardcore sem merdas. A música deles é como um enérgico jato de areia, rápido, furioso, extasiante.
Mannequin Pussy: sábado, 18h40
Profanas, alvoroçadas, tesas, muito sexy: as Mannequin Pussy, dos EUA, são uma clareira punk cheia de escarpas e caos e lava feita de mel. É música para expurgar raiva a dançar – e para manter a incandescência. “I got heaven” é já um dos melhores discos deste ano.
Arca: sábado, 1h25
Arca toca à mesma hora de Mandy Indiana [emoji lágrimas]. A sua vanguardista EDM mutante é fascinante. É música ardilosa, insondável, inclassificável, minaz, maravilhosa.
Escolhas do jornalista José Miguel Gaspar