Catálogo da exposição "Desenhar o quotidiano" foi apresentado esta quarta-feira em Serralves.
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“O arquiteto também é um especialista, mas a especialidade do arquiteto é, ou deveria ser, não ser especialista”: é assim que Álvaro Siza Vieira define a profissão no lançamento do seu mais recente livro “Álvaro Siza: desenhar o quotidiano”. O arquiteto matosinhense foi o protagonista da conversa moderada por António Choupina, na qual também participaram Francesca Singer e Fátima Fernandes, e Nuno Higino.
A exposição que deu nome ao catálogo ainda se encontra em Serralves e surge como uma espécie de continuação de C.A.S.A - Coleção Álvaro Siza, Arquivo - que explora o “macrocosmo siziano” dos últimos 90 anos. “Desenhar o quotidiano”, pelo contrário, parte do microcosmo, sendo composta por objetos de design, ou “recheio da arquitetura”, nas palavras de Siza. Concebidas em absoluta simbiose com o espaço arquitetónico, estas peças representam momentos diferentes no tempo, da Casa de Chá da Boa Nova até à Nova Ala da Fundação de Serralves, assim como as suas respectivas influências.
Siza refere uma evolução que vem junto à evolução da arquitetura: “Os grandes arquitetos dos anos 20 e 30 faziam mobiliário próprio para a arquitetura que faziam. Hoje há mudanças do ponto de vista dos materiais utilizados, há uma diminuição de eficácia e de contratação ligada ao artesanato”. O arquiteto sente “sorte” por ter tido um tipo de aprendizagem num mundo sem as consequências da industrialização, “que tinha tanto a ver com a invenção e com a relação estreita entre quem pensa e quem faz”.
Sobre o processo de criação dos objetos expostos, Siza Vieira destaca o papel do subconsciente, que considera “um grande amigo quando estamos atrapalhados, em crise num projeto”. Acrescenta ainda que “se uma coisa é muito pensada, se não vem do subconsciente, em geral, fica mal”.
Álvaro Siza afirma que não pensa em planos para o futuro: “Quando me perguntam o que é que eu gostava de fazer a seguir eu não tenho resposta porque nunca pensei assim. O trabalho aparece, é-se desejado ou não, e faz-se. Eu pensaria muito se fosse eu a construir para mim, e é difícil construir para mim, tanto que nunca o fiz”.
Entre Japão e Serralves
Para além de “Álvaro Siza: desenhar o quotidiano”, foi também apresentado o catálogo da exposição "SANAA: Sejima + Nishizawa", que celebra os 30 anos da parceria entre os fundadores do atelier japonês. A arquiteta italiana Francesca Singer esteve presente em nome dos SANAA e descreveu essencialmente os projetos de Inujima e Imabari que, apesar de partirem de contextos completamente diferentes, resultam de um longo processo de adaptação dos edifícios às paisagens. A sócia do atelier japonês refere que “Sejima e Nishizawa são muito respeitadoras do ambiente em que os projetos se inserem”. Acrescenta que a consideração pelos habitantes dos locais também está sempre presente.
As exposições “Álvaro Siza: desenhar o quotidiano” e "SANAA: Sejima + Nishizawa" estão abertas ao público em Serralves, até aos dias 20 e 27 deste mês, respetivamente.