O espetáculo "Condomínio", de Nuno Nunes, mostra sexta-feira e sábado, no Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI), a partilha e diálogo entre cidadania, acessibilidade e questões sociais, com um elenco que integra moradores do Porto.
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O espetáculo vai para a quarta edição, depois de antes ter trabalhado com outras comunidades, e estreia-se no Teatro Constantino Nery, em Matosinhos, na sexta-feira, pelas 21.30 horas, com outra récita pela mesma hora no sábado.
A produção está ancorada em três personagens centrais, interpretadas por Nuno Nunes, Sofia Dias e Tiago Sarmento, criadores do projeto, em conjunto com um grupo de moradores do Porto que dão vida às personagens ao redor de temas quotidianos, dos mais simples aos mais complexos.
"O espetáculo tem uma característica que pode ser, às vezes, distinta de alguns espetáculos de trabalho com comunidades, que é o facto de as pessoas estarem ali a construir personagens e situações fictícias a partir de experiências reais", explicou à Lusa Nuno Nunes.
O trabalho em concreto, entre moradores e atores, começou há cerca de três meses, conjugando pessoas da comunidade local com alguma prática com o teatro amador e que mostraram sempre "muita garra e uma grande vontade de participar".
Em sintonia com as temáticas abordadas em "Condomínio", da acessibilidade à vida em coletivo, do urbanismo à fragilidade socioeconómica, o elenco foi construído em parceria com a Era Uma Vez Teatro, da Associação de Paralisia Cerebral do Porto, e com pessoas vindas da Espaço T e da CAIS, além de outros interessados.
"Não tem só a ver com o condomínio, na verdade, isto tem a ver com problemas que, às vezes, passam pela nossa relação com a rua, com o bairro, com a cidade, com o país. Conceitos, valores, posturas políticas", completou o encenador.
Segundo Nuno Nunes, o desafio nesta obra está em reconhecer que é preciso "abdicar muitas vezes da rigidez do pensamento e da atitude em relação à vida para [se abrir] à diversidade das pessoas" e que a aprendizagem acontece para todas as pessoas envolvidas nesta reunião de condomínio alvo de trabalho dramatúrgico e teatral.
Nesta obra estão em discussão conflitos particulares que confrontam uma sociedade plural, "identificando situações pontuais e cruzando problemas de natureza diferente".
Segundo Nuno Nunes, "os temas surgem da sensibilidade do olhar dos participantes em cima de uma estrutura que já estava criada" e, para o público, fica exposta uma "metáfora" de situações que já são conhecidas no quotidiano da vida real.
O público coloca-se, então, em contacto com "diversas vulnerabilidades" em cima de uma proposta dramatúrgica, segundo a sinopse, de "aparente austeridade funcional, balofa e monótona, duma reunião de condomínio".
A expectativa do criador é que haja uma continuação do trabalho, que já se encontra na quarta versão, sendo necessário "quebrar barreiras nos canais de comunicação cultural" para que a arte chegue a uma população excluída do meio.