“Piccolo corpo”, primeira obra urgente da italiana Laura Samani, chega às salas esta quinta-feira.
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O cinema italiano continua a demonstrar uma enorme dinâmica e uma grande diversidade, tendo capacidade de juntar regularmente novos valores aos seus autores já consagrados. A geração de Nanni Moretti pode dormir descansada: a renovação está garantida e o público tem razões para continuar atento ao que se faz em cinema no país da bota.
Espelhando a renovação, estreia esta quinta-feira em sala “Piccolo corpo”, primeira obra que a cineasta Laura Samani levou à prestigiada, e exigente, Semana da Crítica do Festival de Cannes.
O filme é seguramente uma das melhores escolhas para quem gosta de ir ao cinema e apenas se questiona o facto de a distribuidora do filme, talvez por ter raízes precisamente em Itália, não ter traduzido o título para português – seria fácil seduzir espetadores com a tradução literal: “Pequeno corpo”.
Quem não tem seguramente responsabilidade nenhuma nesta situação é a realizadora Laura Samani, que fez o que lhe competia: um bom filme. Melhor, um excelente filme.
Partindo de uma premissa real, a existência, em regiões isoladas de Itália e na viragem para o século XX, de santuários que detinham o poder de dar um último sopro de vida a bebés nados-mortos, de forma a ainda serem batizados e assim poderem enviar as suas almas para o Céu.
É nesse quadro que uma jovem de uma pequena localidade piscatória, ao ver o padre local recusar batismo ao bebé que nasceu morto, decide retirar o pequeno caixão da cova e encetar uma viagem até um desses santuários, para salvar a alma da sua criança. Pelo caminho irá deparar-se com uma personagem com um passado por resolver e que se torna aos poucos sua cúmplice neste singular calvário.
Falado num dialeto italiano local, com uma imensa sensibilidade plástica por parte da sua realizadora, um trabalho aprofundado no desenho de som e a cumplicidade das suas duas atrizes principais, Celeste Cescutti e Ondina Quadri, “Piccolo corpo” é um impressionante conto sobre a maternidade, cruzada com outros temas atuais que lhe conferem uma moderna originalidade cinematográfica.