O velho piano que estava em casa da pequena Alexandra Dovgan, em Moscovo, na Rússia, até podia ter-lhe passado despercebido, não fossem os pais serem músicos e as brincadeiras aos quatro anos já passarem pelas teclas. Trocou o baloiço e o escorrega por Bach, Mozart e Beethoven e hoje arrebata salas europeias. Dito assim, parece que Alexandra cresceu e que já lá vão os tempos de miúda. Mas não. Tem apenas 12 anos e é considerada um prodígio. Vai subir ao palco da Casa da Música, no Porto, este domingo, para inaugurar o Ciclo de Piano 2020. É a sua estreia em Portugal.
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O mítico pianista russo Grigory Sokolov (que já tocou 11 vezes na Sala Suggia) disse, e bem, que "há coisas que não se podem ensinar nem aprender e o talento de Alexandra Dovgan é excecional". O ar angelical, os vestidos de princesa e o cabelo apanhado com tranças escondem um dom que só se descobre quando se senta ao piano. Foi o que aconteceu quando, aos cinco anos, os pais a levaram à Central Music School da Conservatória de Moscovo. Alexandra fez as mãos dançar em frente a um comité de admissão de 15 pessoas, adivinhou acordes, falou sobre compositores e, entre tantos candidatos, entrou.
Tinha sete anos quando ganhou o primeiro de muitos prémios, como a competição Internacional de Piano Vladimir Krainev de Moscovo, aos 9 anos, ao I Grand Piano Competition de Moscovo, que venceu ainda antes de completar 11. E não demorou muito a saltar as fronteiras do seu país. Um vídeo de uma performance, publicado no YouTube, contribuiu para começar a construir do mito e as portas de festivais e das principais salas da Europa abriram-se, pelas mãos de maestros como Valery Gergiev e Vladimir Spivakov.
A agenda de concertos está tão carregada que deixou de ir à escola. Os professores ajudam-na e mandam trabalho de casa. Aos 12 anos, Alexandra já concretizou o sonho de tocar no Concertgebouw de Amesterdão. Também já passou pela Konzerthaus e a Philharmonie de Berlim, ou pelo Théâtre des Champs-Élysées em Paris. "É um privilégio tocar num palco", disse, numa entrevista este ano. Os concertos são "uma possibilidade única de expressar as minhas ideias musicais e culturais e são um desafio para o artista. Eu gosto de enfrentar esse desafios - e gosto dos aplausos no final".
Amor a Rachmaninoff
Em interpretações que a fazem parecer mais madura do que a sua idade, a jovem pianista gosta de tocar em teatros. Apaixonada por Rachmaninoff, não é de estranhar que grande parte das composições que vai tocar na Casa da Música sejam do pianista russo. Também traz Beethoven e Chopin. Talvez, no futuro, tenha mais tempo para desenhar e ler, como gosta. Para ir a mais concertos de orquestras e violinistas. E para aprender órgão, um sonho em standby.