Realizado pelo anglo-filipino Paris Zarcilla, “Graça furiosa” foi uma das melhores surpresas do Festival Motel X. Estreia esta quinta-feira nas salas.
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O cinema de horror passou rapidamente de género menor para fenómeno de culto, com direito a festivais especializados onde, pela enorme afluência de um público fiel, se percebe bem o impacto e a empatia que consegue criar do lado de cá do ecrã.
Além da sua componente de entretenimento, e das explicações psicanalíticas em torno do prazer do ser humano em ter medo, pelo menos no contexto seguro da sala escura, o filme de terror tem mostrado também uma vertente sociológica que lhe tem aberto novos públicos.
São muitas, por exemplo, as leituras do primeiro filme do ciclo de zombies de George Romero, em torno da América da década de 1960. Poder-se-iam escrever volumes e volumes acerca desta temática e na realidade já o foram…
Vem isto a propósito da estreia em sala de “Graça furiosa”, do realizador anglo-filipino Paris Zarcilla, vencedor de dois prémios no SXSW – South By Southwest, um prestigiado festival de cinema independente e que foi uma das revelações do último Motel X, que reúne em Lisboa todos os anos milhares de fãs do género.
Drama fantástico
O filme é um drama de contornos fantásticos, sobre uma empregada doméstica filipina, emigrante sem papéis em Inglaterra, que aceita ir tratar de um velho moribundo numa enorme mansão, acompanhada pela filha, Grace. Como num bom filme de terror, quase nunca o que parece é. E o realizador sabe como gerir essa informação até ao fim.
Na realidade, Paris Zarcilla, para quem este é o primeiro filme de uma trilogia já em andamento, conhece bem as regras do género, jogando com o som e a música, a dicotomia entre luz e sombras e a acutilância dos diálogos, para nos pregar alguns valentes sustos. Depois, incorpora na narrativa elementos da sua cultura de origem, da música à culinária, da magia à religião, não caindo nem no folclórico nem no exótico.
Se gosta de um filme que o entretenha, mas tenha também algo para lhe dizer, e passar pelo cartaz de “Graça furiosa”, não hesite, entre na sala. É seguro.