"C., Celeste e a primeira virtude", peça que Beatriz Batarda escreveu, encena e interpreta, estreia esta sexta-feira em Guimarães e tem nova récita no sábado. O JN falou com a artista.
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A origem do espetáculo remonta a 2019: Beatriz Batarda escreveu um monólogo, apresentado no Porto, intitulado "A primeira virtude". A peça "falava de uma professora em crise e tinha muito da minha experiência pessoal, enquanto professora de teatro", diz Beatriz Batarda ao JN.
Mas, nesse trabalho, "senti que faltava a voz dos alunos" e assim nasceu a nova peça "C., Celeste e a primeira virtude", em que os jovens ganham voz. Esta sexta-feira e no sábado há récitas no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, depois de ter passado pelo Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, e pelo Teatro Viriato, em Viseu.
A história passa-se numa escola artística e durante o último ano de um curso de teatro. Os alunos estão a preparar um exercício final e gera-se uma revolta que provoca um desejo de morte da professora que dirige o exercício. "É um confronto geracional que ganha proporções descontroladas, este é o motor da história", adianta Batarda, que escreveu o texto, encenou-o e é ainda atriz.
Contudo, esta é apenas "uma cama" para falar sobre a instalação de uma "cultura de idealização do indivíduo e da normalização das correções puritanas em retroativo sobre as escolhas dos artistas", afirma Batarda. Conta-se a história da morte da Justiça e o público é testemunha silenciosa - e cúmplice.
Para desenvolver este trabalho, a artista promoveu uma série de encontros com 43 alunos de escolas de teatro, artes plásticas, música e dança. Foram escolhidos seis, cada um deles representando uma virtude.
A Justiça - sétima virtude - foi a exceção à regra de seleção do elenco e é representada pela atriz Rita Cabaço. No final deste processo, "percebi que o material vídeo também era uma peça em si mesmo e decidi partilhá-lo com o público", revela Batarda. O resultado é a instalação "Corpos celestes", que acompanha a peça teatral, uma correalização com Rita Quelhas.
"A obra é uma reflexão sobre a relação que temos com o ensino", conta Beatriz Batarda. "Tem origem no período da Revolução Industrial e está em transformação, lenta como todas as que são profundas. Talvez não à velocidade a que muda o contexto social, político e tecnológico em que vivemos", diz, clarificando que "a primeira virtude é o espanto que se traduz na curiosidade".
As duas récitas de "C., Celeste e a primeira virtude", sexta e sábado, são às 21.3'0 horas; os bilhetes custam 7,5 euros.
Com texto e encenação de Beatriz Batarda, o elenco conta, além da atriz, com interpretações de Binete Undonque, Guilherme Félix, Hugo Narciso, Íris Runa, Joana Pialgata, Pedro Russo e Rita Cabaço.