
Nova trama da Netflix cola os espectadores ao ecrã
Foto: Direitos reservados
Filme de Pulkit Samrat inspirado em histórias reais sobre abusos sexuais de crianças na Índia já está diponível na Netflix.
Mais do que se destacar como obra cinematográfica, “Indiferença” (ou “Bhashak”, no idioma original, híndi), lançado este mês na Netflix, capta-nos pela mensagem. Honesta, brutal e corajosa, mas que não cai no sensacionalismo (e teria sido tão fácil fazê-lo).
O filme indiano, dirigido por Pulkit Samrat, sob o selo da produtora Red Chillies Entertainment, é uma história ficcional inspirada em casos reais de abuso sexual em centros de acolhimento de crianças na Índia. É um passeio provocador e emotivo pelos caminhos tortuosos de um labirinto que é a busca por justiça, e ao longo do qual enfrenta as deficiências de um sistema que, de uma ponta à outra, falha em proteger quem precisa e protege quem usa o poder para sair impune.
No centro deste drama, que traz suspense e investigação, está a jornalista Vaishali Singh, rosto de um órgão de comunicação local e de pequena dimensão, que se digladia para que a história que lhe chegou às mãos sobre torturas e abusos encobertos num lar de meninas, na cidade de Munawwarpur, chegue às televisões do país todo. E, mais do que isso, provoque consequências efetivas, que passem pela proteção das vítimas e pela punição dos agressores.
A partir de um estúdio improvisado e ao lado de outro jornalista – homem, mais velho e cujo papel aligeira com humor a trama pesada –, a corajosa e obstinada Vaishali, brilhantemente interpretada pela premiada atriz de Bollywood Bhumi Pednekar, faz de tudo para expor os abusos e seus autores. Ao mesmo tempo que sofre os prejuízos dessa missão na vida pessoal e é sujeita aos julgamentos da sociedade patriarcal em que vive, a jornalista trava guerras com a Polícia, a Política e a Proteção de Menores, e vai percebendo que os crimes são conhecidos e encobertos por quase todos aqueles com quem se cruza.
Mais de duas horas depois de um início cru, e já cumprida a missão a que se propôs, a jornalista fala para os espectadores do noticiário. E esses espectadores somos nós. Nós, que assistimos ao filme como recetores de uma mensagem social e que sentimos inspiração e asco ao mesmo tempo.

