No livro "Mulheres sem Infância", o antigo inspetor da Polícia Judiciária (PJ), César A. Afonso, veste a pele das vítimas, do homicida e de um psicólogo forense para reconstruir o caso do estripador de Lisboa, que assassinou três prostitutas.
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Trinta anos depois, o caso continua por resolver, sendo um dos mistérios da investigação policial nacional. "Na altura da investigação apareciam suspeitos todos os dias, mas nenhum se confirmou. Ainda há pouco tempo fui contactado por um indivíduo que disse que sabia quem era o autor dos crimes, mas acabei por verificar que era uma fraude", explicou César A. Afonso, que acredita que esta "nova fase" iniciada pelo livro pode "levar a algum lado".
Os crimes já prescreveram em Portugal, por isso a investigação está fechada. Ainda assim, o escritor acredita que o assunto "continua a despertar a curiosidade de muita gente, que tem interesse em escrever livros ou fazer trabalho científico, pelo que há muito a fazer".
"Gostava que o público percebesse que não foi um erro ou um insucesso da PJ. Antes pelo contrário. A investigação foi exaustiva, determinada e com muitos meios e métodos que nunca tinham sido usados, mas não se conseguiu", referiu o ex-investigador, ainda hoje atormentado por questões por responder. "Que personalidade é esta? Que ser humano é este capaz de tirar a vida e depois esventrar, apropriar-se de alguns órgãos. Qual era o objetivo? O que sentiu? Porque fez isto?", questionou.
O romance-policial "Mulheres sem Infância" aborda o assassinato violento de três prostitutas, pelo estripador de Lisboa, entre 1992 e 1993. Os crimes são relatados sob três perspetivas: a das vítimas, a do autor do crime e a de um psicólogo forense (este natural de uma aldeia de Vinhais, onde nasceu o escritor).
César A. Afonso, estagiário na PJ à data dos crimes, explicou ao "Jornal de Notícias" porque sempre quis contar esta história: "Foi um caso que me ficou, porque me preocupam mais os casos que não resolvemos do que os solucionados, que ficam arrumados. Os não resolvidos preocupam-nos, pois continuam a acompanhar-nos ao longo do tempo."
Ainda que parta de uma base real, trata-se de uma história de ficção, cuja narrativa está bem enquadrada em factos que ocorreram e fazem parte do processo de investigação.
"Acho que houve uma coincidência, porque os crimes ocorreram em locais muito conspurcados, onde havia vestígios de muita gente, o que dificultou muito a investigação. Os locais de crime eram cenas muito degradadas, com muitos vestígios biológicos de várias pessoas e objetos. Na altura ainda não se conseguia detetar o ADN. Agora seria bem diferente, mesmo num cenário com muitos vestígios conseguia recolher-se o ADN de todas as pessoas que lá tinham estado e, depois, poderia cruzar-se a informação para ver se algum correspondia aos três locais", comparou.