A encerrar o Festival Dias da Dança, este domingo, às 19.30 horas, Amanda Piña desvela os véus que encobrem a história da dança no seu provocativo espetáculo "Exotica".
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Nesta obra coreográfica, Amanda Piña mergulha profundamente no período do Orientalismo na dança, desenterrando narrativas esquecidas e desafiando concepções arraigadas sobre o corpo, a cultura e a identidade. Em cena, num intricado cenário de ópera, constroí altares do "Dia de los muertos" , com fotografias dos bailarinos obliterados da história da dança, com objetos que foram pretensos pertences seus e garrafas de tequilha para que se beba em sua honra.
O Orientalismo, um fenómeno cultural que floresceu no século XIX, marcado por uma fascinação ocidental com o Oriente, moldando visões estereotipadas e exoticizadas das culturas do Médio Oriente, Ásia e Norte da África. Dentro deste contexto, a dança foi frequentemente usada como um veículo para perpetuar esses estereótipos, alimentando uma percepção distorcida e simplista das tradições de dança não-ocidentais.
Em "Exotica", Piña desafia a narrativa dominante, descontruindo os estereótipos e revelando as complexidades subjacentes das tradições da dança oriental. Através de uma combinação de movimento contemporâneo e elementos de dança do ventre, dança tradicional indiana e outras formas de dança oriental, Piña cria um diálogo vibrante entre o passado e o presente, entre o exótico e o familiar. Cada um dos bailarinos atuais escolhe homenagear um proscrito e contar não só a sua história, mas também ver as similitudes que continuam em vigor.
Uma das conquistas mais impressionantes de "Exotica" é a maneira como Piña resgata a voz das dançarinas orientais, objetos de voyeurismo ocidental, as dançarinas em cena emergem como sujeitos poderosos, reivindicando a sua própria narrativa e subvertendo as expectativas do público. As suas performances são marcadas por uma mistura de força, graça e vulnerabilidade, desafiando as noções convencionais de feminilidade e sensualidade.
Além disso, "Exotica" serve como um lembrete contundente da importância de contextualizar e problematizar as representações culturais na dança.
Ao explorar as interseções entre poder, colonialismo e identidade, Piña convida-nos a questionar as nossas próprias percepções e preconceitos em relação ao Oriente e à dança oriental. E lembra que a dança é muito mais do que uma mera expressão artística - é um espelho das nossas próprias visões do mundo e uma ferramenta poderosa para a transformação social.
No entanto, "Exotica" não é apenas uma crítica contundente ao passado; é também uma celebração vibrante da diversidade e da resiliência da dança oriental. Através da sua abordagem inovadora e multidisciplinar, Piña mostra-nos que as tradições da dança oriental não são estáticas ou unidimensionais, mas sim fluidas e em constante evolução. Ela desafia-nos a reconhecer a riqueza e a complexidade dessas tradições, e a celebrar a sua capacidade de inspirar e capacitar artistas de todo o mundo.
Por outro lado, explica como esses personagens usaram esse exotismo a seu favor: Clemencia Piña era mexicana, mas como as danças espanholas estavam em voga, assumiu-se espanhola, usando o desconhecimento em seu proveito. Há fenómenos similares com bailarinos do Sri Lanka, que são tomados por indianos...
Em última análise, "Exotica" é mais do que um simples espetáculo de dança; é uma experiência profundamente transformadora que nos convida a repensar as nossas próprias relações com o passado, o presente e o futuro da dança. É uma obra que ressoa com urgência e relevância no nosso mundo cada vez mais globalizado, oferecendo uma visão provocativa e inspiradora da dança como uma ferramenta para a conexão, a compreensão e a transformação.