O Círculo de Belas Artes de Madrid inaugura, esta quinta-feira, uma exposição com 70 obras de Banksy a partir do espólio de colecionadores privados. A mostra não foi autorizada pelo artista e contradiz o seu ideal. Fica patente até 9 de maio de 2021.
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Numa das salas do Círculo de Bellas Artes de Madrid pode ver-se a obra "The Street is a Canvas" e, ao lado, a serigrafia original de "Girl with Baloon", uma das obras mais conhecidas do artista de identidade desconhecida. Ao lado da peça, um vídeo percorre o momento em que este desenho se autodestrói depois de ter sido leiloado na Sotheby's em 2018 por mais de um milhão de euros. A crítica ao sistema capitalista que o criador fez naquele dia olha diretamente para a peça original, agora nas mãos de um coleccionador privado.
Esta exposição não foi autorizada pelo artista, como, de resto, nenhuma outra. E contradiz, de forma clara, os ideais pelos quais se move. Segundo o diário espanhol "El País", essa ausência de caução do autor, acompanhada de uma série de merchandising, levanta questões sobre a moralidade e a legalidade de exibir a sua obra.
Banksy, da rua pública à galeria privada
As mais de 70 peças reunidas nesta nova exposição, 18 delas únicas (já não há mais exemplares), pertencem a coleccionadores privados. O valor do bilhete para conhecer a exposição custa cerca de 16 euros. É o oposto do que preconiza Banksy, que idealiza a sua arte para ser exibida ao ar livre, nas ruas de dezenas de cidades do mundo, sem ter que pagar para ver. E a sua arte é uma crítica ao capitalismo, à sociedade de consumo, à hipervigilância a que estão submetidos os cidadãos e à desigualdade.
Nenhum deste argumentos comove Rafa Jiménez, um dos responsáveis pela exposição. "Interessa-nos o seu carácter contraditório, como entra na lógica de mercado e como podem ser produzidas mostras como esta", argumenta ao "El País". E acrescenta que uma parte da exposição inclui imagens tiradas por Steve Lazarides, o ex-braço direito do artista. "Ele fotografou muitas de suas intervenções e é parcialmente responsável pela transferência das obras para as galerias de arte."
Valerio Rocco Lozano, diretor do Círculo de Bellas Artes de Madrid, garante que não pretende "evitar debates nem reflexões" e que está disposto a pagar o preço pelo risco. "Assumo, como diretor, a parte moral da decisão de fazer a exposição. Em relação aos direitos autorais, à parte jurídica, se houver reclamação, também a assumirei. " Banksy ainda não se pronunciou.