“O rock no Porto nos anos 80 - uma viagem pelo asfalto”: exposição na Casa Comum da Reitoria da Universidade desenha a cidade alternativa dos anos 1980.
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Estão lá as referências a Rui Veloso, GNR ou Táxi, como pilares de enquadramento de uma década, mas o foco de “O rock no Porto nos anos 80 – uma viagem pelo asfalto”, mostra com curadoria da socióloga Paula Guerra e do jornalista David Pontes, patente na Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto, detém-se no período iniciado entre 1985/86, quando emergem as tribos urbanas – punks, góticos, psychobillys ou deathrockers – e o Porto recupera anos de atraso face a fenómenos já amadurecidos no centro e norte da Europa.
Recuperou depressa e com propriedade, gerando uma cena completa, pulsante, informada e movida pelo “faça você mesmo”. Da discoteca mais selvagem que terá existido na cidade – o Jimmy’s – às rádios livres como a Caos, Delírio ou Nova Era; dos locais de concertos como o Pavilhão Infante Sagres ou o Solar da Cruz Vermelha às fanzines que divulgavam música e tendências; das lojas de discos como a Tubitek, aos estabelecimentos onde se adquiria roupa e acessórios – alguns totalmente improvisados, como aquele da Rua Escura onde se compravam dólmans e botas da tropa em segunda mão.
Até chegar ao lugar que se tornou uma espécie de hub do movimento e testemunhou o seu fim – o atual mono adiado da Avenida da Boavista: o Centro Comercial Dallas, onde pontificava o Lá Lá Lá, espaço de todas as tribos que fechou por causa da mais violenta delas, os white skins.
A exposição cartografa bandas – Cães Vadios, Bramassaji, Hospital Psiquiátrico ou Repórter Estrábico – lugares e pessoas, surgindo alguns figurões da época: o gótico Alfredo, o psychobilly Claudino ou o “sónico” Pedro Mesquita.
Há textos a darem respaldo histórico e sociológico. Há recortes de jornais, capas de fanzines, fotografias, memorabilia, letras de canções. Ao circular pelo espaço, escutam-se temas icónicos da época.
A visita será comovente para quem testemunhou aqueles dias. Para todos os outros, é recomendável a consulta do site associado à exposição: ali se descrevem todas as partes de um mosaico efervescente que transformou a paisagem cultural da cidade.