Depois de 17 dias de sucessivas “casas cheias”, António Victorino d’Almeida, António Saiote, Raúl da Costa e Kátia Guerreiro subiram ao palco no Parque da Cidade da Póvoa de Varzim.
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Começou com fado tradicional, passou pelo West Side Story, seguiu-se a fusão da música clássica e do jazz de “Rhaposody in Blue” (de George Gershwin) e, a terminar, uma das mais importantes vozes da nova geração do fado: Kátia Guerreiro. O último dia do Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim (FIMPV) foi de casa cheia. O Parque da Cidade foi “aposta ganha” e a diversidade musical veio fazer jus aos 17 dias que ficaram para trás: o FIMPV é, cada vez mais, um festival de músicas do mundo.
A ideia, explicou o diretor do FIMPV, Raúl da Costa, era simples: “celebrar a grande música portuguesa que é o fado”. Como no “Fado Jazz” de Júlio Resende ou no trio palestiniano “Joubran”, o festival voltava a deixar a sua “zona de conforto” e, desta vez, também a “casa-mãe”. Rumava ao Parque da Cidade para, ao sol do fim da tarde, no verde campestre, ouvir dois dos grandes: António Saiote e António Victorino d’Almeida.
“Amália” abriu as hostes. Seguiu-se “Noite” e, a esta altura, o clarinete de António Saiote, que ali substitui a voz, já havia conquistado a plateia. Estava lá tudo: o fado na sua forma mais tradicional, a sensação de improviso constante, a musicalidade, os arranjos das guitarras de Artur Caldeira e Daniel Paredes. De “Petite Fleur” a “Os Putos” (Paulo de Carvalho) e “Lopes”, o espetáculo – que parte do disco “Clarinete em fado” – foi um mergulho na história do fado e da vida de um dos grandes do clarinete.
António Victorino d’Almeida sobe ao palco e a casa cheia aplaude em pé. E, mais uma vez, a história: a abrir quatro fados, de outras tantas gerações da família – o avô, o pai, o maestro e a filha. Logo a seguir chegava o “amigo Saiote”. Nunca tinham tocado juntos. Agora, o fado e uma encomenda original para o FIMPV unia-os. Ganhou quem viu.
A homenagem a Mísia
E porque o fecho foi em “dose dupla”, à noite, subiu ao palco a Banda Sinfónica Portuguesa para um extraordinário West Side Story, de Leonard Bernstein. E, logo a seguir, Raúl da Costa juntava-se à Banda Sinfónica Portuguesa para prestar homenagem a Gershwin, 100 anos depois de “Rhapsody in Blue” – e que “Rhapsody in Blue”! O público aplaudia de pé o “regresso” do filho da terra, que hoje dirige o festival que o fez músico. A fadista Kátia Guerreiro fechou a noite, não sem antes lembrar Mísia “a mulher guerreira, pioneira, corajosa que abriu caminho ao nascimento de uma nova geração de fadistas”, a quem dedicou “Rosa Vermelha”. Seis horas depois, a plateia repleta de gente e os muitos sentados no chão refletiam os 17 dias de um festival feito de “casas cheias”.
A “aventura” do Parque foi “prova superada” para um Raúl da Costa que: “Só quer dar “o melhor” à sua terra “e nada menos que isso”.
“Quando fizemos esta aposta em convidar o Raúl da Costa para refundar o FIMPV esperávamos isto: que tivéssemos outros públicos, que chegássemos a outras pessoas, que diversificássemos também o género de música”, afirmou o presidente da Câmara, Aires Pereira, certo de que a “aposta”, por muitos criticada – o pianista tinha, na altura (2018), apenas 25 anos –, “valeu a pena”