Herói de romances e bandas desenhadas publicado em Portugal.
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Charles Dewisme, mais conhecido como Henri Vernes, faleceu ontem com a bela idade de 103 anos. Jornalista, romancista e argumentista de BD, foi o criador de Bob Morane, de quem deixa cerca de duas centenas de aventuras.
Natural de Ath, na Bélgica, onde nasceu a 16 de outubro de 1918, aos 19 anos fugiu do seu país natal e, chegado a Marselha, embarcou num navio rumo à China. A experiência durou alguns meses e, uma vez terminada, trouxe-o de regresso à Europa com a cabeça cheia de ideias e recordações que viria a utilizar durante a carreira de escritor.
Em 1940, durante a II Guerra Mundial, foi mobilizado, mas juntou-se rapidamente à Resistência. Dois anos depois escrevia o seu primeiro romance, "Porte ouverte", que só seria publicado em 1944.
A partir de 1946 abraça a profissão de jornalista, ao mesmo tempo que escreve cada vez mais, em nome próprio ou sob diversos pseudónimos, o mais famoso dos quais viria a ser Henri Vernes, com o qual criaria Bob Morane, em 1953, para as edições Marabout, já com 35 anos.
Protagonista de romances juvenis de aventuras, Bob Morane é um ex-aviador da Royal Air Force britânica que, geralmente em companhia do gigante ruivo escocês Bill Balantine e da bela Sophie Paramount, vive aventuras de diverso tipo, desde as mais realistas de ação e espionagem, na época contemporânea, até às mais fantasiosas, fruto de viagens no tempo, ao passado e ao futuro, enfrentando frequentemente um poderoso inimigo conhecido como Sombra Amarela. Em 1964, durante uma entrevista, Vernes descreveu assim o seu herói: "Bob Morane podia ser um Zorro sem máscara... É caseiro, gosta do seu apartamento, dos seus livros e antiguidades, do seu roupão. É meio burguês". E mais tarde completava: "Mas isso não o impede de, à imagem de Dom Quixote, partir para aventuras insolúveis e conseguir derrotar os moinhos de vento".
"La vallée infernale" foi a sua primeira aventura, de sucesso imediato, a que se seguiram mais duas centenas, que venderam dezenas de milhões de exemplares.
A chegada do herói à banda desenhada, género para o qual Vernes já escrevia argumentos desde 1954, deu-se em 1959, na revista "Femmes d"Aujourd"hui", com o desenho entregue a Dino Attanasio (desenhador de "Spaguetti"). O desenho foi sucessivamente confiado a Gérald Forton, William Vance (com quem a série de BD alcançou o expoente máximo) e Francisco Coria, com o herói de Vernes a passar pelas páginas das revistas "Tintin", "Pilote" ou "Hello Bédé".
Em Portugal, Morane estreou-se sob a forma de romance, em 1961, com "O vale infernal", na coleção Marabu Júnior, da editora Ulisseia, na qual veriam a luz do dia mais de uma dúzia das suas aventuras.
Na banda desenhada, coube à Editorial Íbis dar a conhecer as suas aventuras no nosso país, com dois álbuns - "A espada do paladino" e "O segredo dos sete templos" - lançados em 1970, tendo igualmente passado pelas páginas das revistas "Tintin", a partir de 1976, e da "Flecha 2000", dois anos mais tarde.
Objeto de uma adaptação televisiva em 1965 protagonizada por Claude Titre e Billy Kearns, e transformado em série animada em 1998, Bob Morane irá sobreviver ao seu criador, que viveu os últimos anos cego e com a saúde debilitada, já que existem novas versões em BD em curso de publicação em França.