Foi co-criador do Menino Nicolau com René Goscinny.
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Jean-Jacques Sempé faleceu esta quinta-feira, a poucos dias de completar 90 anos, no próximo dia 17.
Ilustrador e humorista francês, natural de Bordéus teve uma vida atribulada até conseguir concretizar a sua vocação de desenhador, descoberta muito cedo. Estudante indisciplinado, foi expulso do colégio que frequentava; começando a trabalhar, como entregador de vinhos em bicicleta, foi despedido por usar o papel timbrado do patrão para desenhar; alistado voluntariamente no exército, passou grande parte do tempo preso por distracção e chegou até a perder a espingarda.
Finalmente, em 1950, conseguiu vender o seu primeiro desenho ao jornal "Sud Ouest", primeiro com o pseudónimo de "Dro", depois em nome próprio, a partir do ano seguinte.
1954 ficaria marcado pelo seu encontro com René Goscinny, futuro criador de Astérix. Juntos em várias publicações, entre elas "Le Moustique", elaboraram folhetins e bandas desenhadas e Sempé assinou as suas primeiras capas. Um desenho seu, de um menino chamado Nicolas, viria a originar uma banda desenhada com argumento de Goscinny, interrompida após 28 pranchas quando este último foi despedido por ter pedido um maior reconhecimento do trabalho dos artistas e tendo Sempé decidido acompanhar o seu amigo.
Anos mais tarde, o jornal "Sud Ouest Dimanche" encomendou uma colaboração aos dois autores que decidiram retomar a sua criação, não como banda desenhada mas sim na forma de contos ilustrados, sendo o primeiro publicado a 23 de Março de 1959, data oficial de nascimento de "Le Petit Nicolas" ("O Menino Nicolau" na versão portuguesa). Conta a lenda que a esposa de um editor os leu e aconselhou o marido a contactar os autores. Dessa forma, aquelas histórias que combinavam o humor e a ternura da infância, num ambiente escolar urbano, foram compiladas em diversos livros.
Em Outubro desse mesmo ano, Goscinny, Uderzo e Charlier davam origem à aventura da revista "Pilote", cujo primeiro número estreava Astérix e o tenente Blueberry ao lado das andanças de "Le Petit Nicolas".
Goscinny e Sempé mantiveram a colaboração até 1965 e depois os seus caminhos profissionais separaram-se. Sempé dedicou-se à ilustração, dentro do seu estilo de desenho simples e de grande legibilidade, feito de traço fino, tanto capaz de servir o seu humor melancólico e sonhador, como de ilustrar romances ou capas de revistas de renome. Entre elas conta-se "The New Yorker", para a qual, a partir de 1978, ilustrou dezenas de capas., o que lhe granjeou uma fama que ultrapassou a sua França natal, estando a sua obra publicada em mais de 40 países. Entre eles conta-se Portugal onde, para além das sucessivas publicações de "O Menino Nicolau", a obra do desenhador francês pode ser encontrada na colecção "Humor com Humor se paga" (Dom Quixote, 1983), ao lado de Quino ou do português Sam, ou em "O Mundo de Sempé" (ASA, 2002).