Norte-americano Jay Rosenblatt é a figura homenageada deste ano e vem ao Porto falar dos núcleos emocionais e psicológicos dos seus filmes. O festival do Porto exibe 17 curtas do cineasta e recebe na competição 22 filmes oriundos de 18 países.
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Entre esta terça-feira e sábado, 14 e 18 de outubro, o Porto volta a ser casa de um dos festivais mais singulares do panorama cinematográfico português. O Family Film Project - Festival Internacional de Cinema de Arquivo, Memória e Etnografia regressa para a sua 14.ª edição, espalhando-se por vários espaços da cidade - do Batalha Centro de Cinema à Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto, passando pela Galeria Nuno Centeno, Coliseu Porto Ageas e Passos Manuel.
Fiel à sua vocação, o programa continua a explorar as fronteiras entre o íntimo e o coletivo, entre o documento e a ficção, entre a lembrança e a criação.
Este ano, o festival apresenta-se com uma nova identidade visual, concebida pelo estúdio Macedo Cannata, que traduz graficamente a essência do evento: um território em movimento, onde o passado se reinscreve no presente. É nesse diálogo entre tempos e vozes que se ergue o foco dedicado ao norte-americano Jay Rosenblatt, figura central do cinema experimental contemporâneo.
Duas vezes nomeado ao Óscar ("How Do You Measure a Year?", em 2023, e " When We Were Bullies", em 2022, ambas curtas-metragens documentais) e autor de mais de 30 filmes, Rosenblatt trabalha com fragmentos de memória e imagens de arquivo, convocando a emoção e o pensamento crítico. O seu trabalho explora núcleos emocionais e psicológicos, numa perspetiva pessoal pelo conteúdo, mas universal no seu apelo.
No Porto, será exibida uma seleção de 17 curtas-metragens de Jay Rosenblatt que percorrem três décadas de criação, acompanhada de uma conversa com a investigadora Jaimie Baron, uma das vozes mais influentes no estudo da memória no cinema.
Aulas de cinema com inteligência artificial
A competição internacional do Family Film Project mantém-se como coração pulsante do festival. São 22 filmes, oriundos de 18 países, distribuídos pelas habituais secções Vidas e Lugares e Memória e Arquivo.
As obras selecionadas confrontam-nos com modos de ver e de preservar - histórias familiares, territórios esquecidos, identidades em trânsito.
O júri, composto por Fátima Vieira, Paula Miranda e Raquel Scheffer, atribuirá três prémios patrocinados pelo Canal 180 e pelo Café Belíssimo, parceiros que reforçam o diálogo entre cinema, arte e pensamento contemporâneo.
A programação paralela propõe uma imersão no gesto criativo. No Batalha Centro de Cinema, três masterclasses convocam o olhar e a escuta. Jaimie Baron fala sobre "Archival Anticipations", explorando o futuro dos arquivos; a realizadora Firouzeh Khosrovani conduz o "Family Portrait: Uncovering Hidden Narratives", acompanhada da exibição do seu aclamado "Radiograph of a Family"; e o artista Mohammad Salemy propõe "Computational Contemplation: Cinema in the Eyes of AI", refletindo sobre a inteligência artificial e a perceção cinematográfica.
O Private Collection, projeto-performativo que cruza corpo, memória e espaço, regressa à Casa Comum já esta terça-feira. Este ano, apresenta "Urbino", de Deeogo Oliveira, Rue Rosa Bonheur, de Emídio Agra, e "Miscelânea", de Angélica Salvi, num percurso sensorial entre o Laboratório de Química, a Biblioteca e o Salão Nobre.
O festival estende-se ainda à sala de projeções do Passos Manuel, onde Luísa Sequeira apresenta a vídeo-instalação "Almakina", e ao Coliseu Porto Ageas, que acolhe a exposição fotográfica "Pausas e Assobios", de Mariana Caló e Francisco Queimadela. No dia 15, quarta-feira, em parceria com o Unarchive Found Footage Film Fest (Itália), serão exibidos quatro filmes que reinventam o uso criativo das imagens de arquivo, numa sessão que sublinha o espírito de partilha e experimentação que define o Family Film Project.