Fattú Djakité e Komodrag & The Mounodor foram os heróis da terceira noite em Sines
Fattú Djakité traz no corpo as tradições musicais da Guiné-Bissau e de Cabo Verde em doses iguais - nasceu no primeiro país, vive no segundo - e empurra essa herança para a pop contemporânea.
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Já as duas bandas francesas que se amalgamaram - Komodrag & The Mounodor - parecem ter sido despertadas de um sono criogénico iniciado no início dos anos 1970 para uma atuação selvagem de southern rock e psicadelismo. Foram os números dourados da terceira noite em Sines do Festival Músicas do Mundo (FMM).
Um carrapito imponente e um traje africano estilizado - “Estou mesmo bonita, não estou?” - foram as marcas visuais de Fattú Djakitté no concerto do Castelo.
As marcas vocais revelam latitude: de tons encorpados e ardentes a registos suaves e intimistas. Tem presença abundante em palco e estreou-se em Portugal com a naturalidade de artista feito, apesar da juventude e de ter apenas um álbum em carteira, “Praia - Bissau”, que assinala no título a sua dupla filiação. É a esse casamento entre as duas pátrias que aspira, inspirando-se na figura de Amílcar Cabral, fundador do PAIGC e instigador da luta pela libertação dos dois países. Ofereceu um espetáculo trepidante e festivo, de combinação harmoniosa entre raízes musicais e sonoridades do presente.
Pouco ligados ao presente parecem os membros das bandas francesas que se fundiram para o concerto na marginal de Sines. Tanto Komodrag como The Mounodor podiam ter atuado no Festival de Altamont (1969) - quase todos magros e esguios, cabeleira longa, camisas com franjas, bocas de sino e botas de plataforma: num concurso ‘retro’, levavam a taça. As poses teatrais de quatro guitarristas, as duas baterias a estremecer o palco e um Hammond a experimentar drogas produziram panorâmica sobre todo o rock dos anos 1960/70, do blues ao garage, da acidez ao glam. Retificamos a primeira ideia: quando uma banda capta com tal fervor o espírito nuclear do rock estará sempre no presente, como se provou pela adesão do público eclético e multicultural de Sines.
Entre estes dois atos, escutou-se o jazz aglutinador dos Mestizo (Reino Unido e Colômbia), o reggae californiano dos Groundation e a pop-lounge da brasileira Ana Frango Elétrico, com a sua voz fininha e desmaiada.