Desde malabaristas que distraem condutores durante o sinal vermelho, a palhaços, cantores e grafiteiros. O JN foi ao seu habitat e eles mostraram como funciona.
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Santa Catarina, Flores, Ribeira e Aliados são alguns dos locais que mais se enchem de artistas por esta altura do ano. Às ruas afluem bandas, dançarinos, palhaços, malabaristas e até pintores. O Porto enche-se de animação, os turistas deslumbram-se e as palmas ouvem-se no centro da cidade, prova de que os artistas fazem sucesso. E se é prazeroso para quem vê, é melhor para quem faz.
Bossa Lu
Proximidade e participação
Descendo até à Ribeira, ouve-se o samba carioca, ao longe. É o trio Bossa Lu que chama a atenção. "Costumo dizer que estar na rua não tem preço, vemos coisas que não veríamos em mais nenhum lugar", referiu Klara Rodrigues, a vocalista do grupo.
Caio Daher, percussionista, admite que a principal diferença entre o palco e a rua é a informalidade. "Quando as pessoas estão a passar, ouvem o som e param. Não compram bilhete, ficam simplesmente a admirar. É mais informal, ficamos mais livres para improvisar e até para errar", explicou o artista, feliz com a atenção.
"Na rua, há a dinâmica e a proximidade, participamos ativamente na vida das pessoas", acrescentou Sthényo Cavalcante, que é o guitarrista da banda.
Licenças? Klara, a vocalista, diz que a Câmara Municipal do Porto não impôs qualquer regra mas apela ao respeito. "Não há uma cobrança, desde que respeitemos as pessoas. Onde há moradores, a música não pode estar alta. É preciso respeito também pelos músicos e dar lugar a outros".
À pergunta se escolhiam o palco ou a rua, entre estupefação e risos, respondem: "Os dois!".
Palhaço Gravata
"Chora que a mamã dá"
Já na Rua de Santa Catarina encontra-se o Palhaço Gravata que, apertando o nariz vermelho, vai chamando a atenção dos que passam com as suas brincadeiras. "Chora que a mamã dá, queres um balão?", "Dê um balão à avó", vai dizendo rua fora.
Foi no Porto que encontrou a oportunidade de ganhar dinheiro e levar alegria a miúdos e graúdos, admitindo que ser palhaço é um atrevimento. "Tenho de me meter com as pessoas, de uma forma educada mas atrevida, mas muitos não gostam", explicou.
Ser palhaço passa, principalmente, pela imaginação e cada dia é uma incógnita. "O que acontecer acontecerá. Tens que saber interpretar na hora", diz o Gravata.
Ari Vicentini
Montra das suas caricaturas
Continuando rua abaixo, avistam-se os trabalhos de Ari Vicentini, artista plástico, que aproveita a montra de uma loja encerrada a meio daquela via comercial e pedonal, para expor alguns dos seus trabalhos.
"Surgiu a oportunidade de fazer caricaturas e é aqui que consigo o meu público. A rua possibilita expor o trabalho a um grande número de pessoas e de me chamarem para participar em eventos ou receber encomendas", contou o pintor que, além da rua, tem os seus trabalhos em galerias.
O contacto direto com as pessoas é bastante importante para os artistas, seja pelos negócios ou para "dar duas de letra". "O sorriso de uma criança e a satisfação das pessoas impactam, é gratificante ver os rostos admirados quando veem o resultado das caricaturas e isso só nos acontece aqui", explicou Ari Vicentini.
Teresa Rivarola
Pára nos semáforos há 12 anos
E é quando o sinal vermelho do semáforo surge que muitos artistas aproveitam para mostrar a sua arte.
Teresa Rivarola faz malabarismo na rua entre a Circunvalação e o centro do Porto, há 12 anos. "Achei uma forma de fazer o que gosto e de dar alegria às pessoas, trabalhar nas ruas dá-me independência e liberdade", contou a artista, assumindo que este é mesmo o seu trabalho e não um hóbi, como muitos pensam.
Ficar só pela Cidade Invicta está fora de questão. "Sonho dar a volta ao Mundo, a fazer circo e malabares ", revelou.
Paulo Boz
Grafita e dança na rua
Paulo Boz, que dança e faz grafíti no Porto, usa a arte para marcar o Mundo. "Fazer arte é expressares-te, mostrares o que tens dentro de ti, onde e quando quiseres", indicou, revelando que "ser artista de rua passa pela questão monetária, mas a paixão pelo que se faz é a principal razão de estar ali".
Paulo conclui que todos podem fazê-lo. "Há tanta arte que se pode fazer na rua e às quais ninguém fica indiferente... é isso que se procura como artista".