
Marcelo Rebelo de Sousa e Rui Moreira percorreram vários dos 130 stands da Feira 2024
Foto: Igor Martins
Presidentes da República e da Câmara do Porto abriram a Feira do Livro. “Agora tem muito mais gente”, disse Marcelo.
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Meia hora antes do previsto, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, entrou de rompante, qual homem bala, na Feira do Livro do Porto, provocando alvoroço - e alguns imbróglios protocolares -, tal era a quantidade de pessoas que o queria cumprimentar ou ser ouvida por ele. Desde os lesados do BES, o senhor Manuel, que tem 90 anos e trabalhou “a vida toda até este dia, para chorar no abraço do presidente”, à senhora que era “uma boa mulher” e insistia que só estava “colada a ele porque sou quase cega”, passando por Rodrigo, que queria, claro, tirar uma selfie com o presidente, mas que saía “sempre mal” - e então voltava e tirava outra e mais outra, como dezenas de crianças ali na Feira.
Quando finalmente conseguiu alcançar a Biblioteca Almeida Garrett, onde está instalada a exposição “Post Scriptum sobre a alegria” (patente até 22 de setembro), Marcelo conseguiu finalmente encontrar-se com Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto. Mas foi a custo e com a força ativa dos seguranças presidenciais a agarrarem as obras de arte que a curadora Rita Roque lhe mostrava, explicando as escolhas que tinha feito entre o espólio de manuscritos e obras anotadas adquiridas pelo município a José da Cruz Santos, editor e amigo de Eugénio de Andrade, que ali estão em diálogo com a coleção particular de arte do poeta.
Pelo meio, apareciam várias personalidades do Porto, como João Gesta, programador da Feira, a quem Rui Moreira disse “você sabe que está sempre no meu coração”. Também Germano Silva foi uma paragem obrigatória dos presidentes. Isto depois de Elisabete Bárbara, que estava numa sessão de autógrafos do seu livro, ser engolida pela multidão que seguia os presidentes.
Lotadíssimo estava também o concerto de Gisela João, na Concha Acústica, de onde os seguranças desviaram o presidente.
Resistência alfarrabista
“Muito mais gente, mas muito mais gente! Quando esta Feira recomeçou há coisa de oito anos, apanhei com muita chuva e havia muito pouca gente, menos stands, menos jovens, não havia, aliás ,a animação cultural que caracteriza hoje a Feira do Livro do Porto e o que me impressiona muito”, comentou o presidente da República. “Aqui, é o número de pessoas que aumentou, o número de stands que aumentou e a resistência dos alfarrabistas, que já não há na Feira de Lisboa. Em Lisboa a esmagadora maioria tem idade inferior a 35 anos e 40% inferior a 20 anos; no Porto, é muito mais equilibrada nas idades”, reparou.
As compras de Marcelo
Leitor compulsivo, Marcelo faz sempre várias aquisições no certame e ofereceu ao município do Porto uma primeira edição de Eugénio de Andrade. A título pessoal, as escolhas do presidente são curiosas: o primeiro livro que adquiriu foi “Casa portuguesa”, de Pedro Penim, texto do primeiro espetáculo do diretor do Teatro Dona Maria II; e o segundo foi “Atlantica: contemporary art from Cabo Verde, Guinea- Bissau, São Tomé and Príncipe and their diasporas”, da editora Hangar Books, especializada em publicações de artes contemporâneas, com foco nas epistemologias do sul. Rui Moreira, por seu lado, disse entre risos que ainda não tinha conseguido comprar nenhum livro, mas que estava “a namorar uns quantos” e que voltaria, “obviamente” à Feira, que só fecha a 8 de setembro.

