São já 18 as edições desta iniciativa, que chega a vinte localidades do país.
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Olhando para trás, há uma evidência: há um antes e um depois da primeira Festa do Cinema Italiano. Dotado de um historial sem igual, o cinema italiano renascia nesse início de milénio, mas mantinha-se distante das nossas salas de cinema. Da mesma forma que pouco antes a Festa do Cinema Francês fizera pela cinematografia gaulesa, Stefano Salvio, neste momento um dos italianos mais portugueses ajudava o nosso público de cinema a reconciliar-se com o cinema transalpino.
Ao chegar às 18 edições, a Festa do Cinema Italiano faz já parte do panorama cultural nacional. Isto porque, após a Cinemateca ter iniciado já no dia 1 a retrospetiva quase integral sobre o pouco conhecido Antonio Pietrangeli, autor que navegou entre o neo-realismo e a chamada comédia à italiana, a Festa tem uma abertura mais formal. Chega hoje à noite ao Cinema São Jorge, em Lisboa, com “A Grande Ambição”, de Andrea Segre, sobre Enrico Berlinguer, o histórico secretário-geral do Partido Comunista Italiano, espraiando-se depois por duas dezenas de localidades, como Setúbal, Beja, Aveiro, Funchal, Braga, Coimbra, Évora ou Porto, onde chegará de 14 a 18 de maio próximo.
Entretanto, em Lisboa, já terá sido exibido, no próximo dia 17, o filme de encerramento, “Diva Futura, Cicciolina e a Revolução do Desejo”, de Giulia Louise Steigerwalt, sobre a fundação por Cicciolina e Riccardo Schicchi da agência Diva Futura, que transformaram Cicciolina e Moana em estrelas globais do filme pornográfico e levou mesmo a primeira a ser eleita para o parlamento italiano.
A programação da Festa do Cinema Italiano desdobra-se como é habitual em várias secções. O Panorama apresenta filmes inéditos em Portugal, diretamente dos mais prestigiados festivais internacionais, como Cannes, Veneza ou Berlim, como “Diamantes”, de Ferzan Oztepek, “O Regresso de Ulisses”, de Uberto Pasolini, “Marcello Mio”, de Christophe Honoré ou “Vermiglio”, de Maura Delpero, todos a serem logo de seguida estreados comercialmente entre nós.
Haverá também uma secção competitiva, dedicada a primeiras e segundas obras, que concorrerão ao Prémio do Júri de melhor filme do festival. São cinco filmes, de outros tantos autores a descobrir: Michele Riondino, Giovanni Tortorici, Francesco Costabile, Milad Tangshir e Alissa Jung.
A comemoração dos 100 anos de Marcello Mastroianni é um dos pratos fortes da Festa, reunindo várias iniciativas, como a exibição de alguns clássicos do ator e a exposição de fotografias “Marcello, come here… Cent’anni e oltre cento volte Mastroianni”, mas centrando-se sobretudo na presença de Mastroianni em Portugal, com a exibição de “Afirma Pereira”, com a presença do realizador Roberto Faenza, a estreia de um documentário sobre os trinta anos do filme, bem como a exibição de “Viagem ao Princípio do Mundo”, de Manoel de Oliveira, último filme do ator, e do documentário feito durante a rodagem, “Mi ricordo, sì io mi ricordo”, de Anna Maria Tatò, um verdadeiro testamento artístico e espiritual de Mastroianni.
À margem das projeções de filmes, a Festa organiza a apresentação do livro “La Bella Confusione”, de Francesco Piccolo, sobre a disputa entre Visconti e Fellini para terem consigo Claudia Cardinale nas filmagens de “O Leopardo” e “8 ½”, ambos rodados no verão de 1963, além de eventos dedicados à música, à gastronomia e a várias atividades infantis e educativas. Para acompanhar durante o próximo mês, um pouco por todo o país.