Parque do Covelo, no Porto, inaugura a vasta programação, dentro e fora de salas tradicionais, que engloba 12 espetáculos durante cinco dias.
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Um Trengo teimoso, persistente, incansável. Há dez anos a serpentear por ruas e jardins da Invicta, o Trengo Festival de Circo regressa com o entusiasmo intacto e o arrojo afinado, como um acrobata que não teme alturas. A edição que marca a primeira década de vida começa hoje, e fá-lo com a irreverência que já é a sua assinatura.
O arranque faz-se em festa, com o espetáculo “Look inside your pocket”, no Parque do Covelo, às 18.30 horas, uma ode ao inesperado que inaugura os cinco dias de circo contemporâneo em vários palcos da cidade e além. Nesta décima viagem, o Trengo reúne 25 apresentações de 12 espetáculos, que cruzam geografias e poéticas: Portugal, França, Brasil, Argentina, Espanha e um foco especial na Catalunha, numa parceria artística que toma corpo no projeto Latitud(e)s Catalunya – Portugal 2025.
O Trengo não é só circo, é diálogo e contágio criativo. A partir de hoje e até domingo, o Porto transforma-se num trapézio urbano, com atuações em lugares simbólicos como o Teatro Campo Alegre, o imponente Coliseu Porto Ageas, o sempre irreverente Clube Erva Daninha/Espaço Agra, o Teatro Rivoli e ainda extensões em Viseu e Penafiel. Não há esquina que escape ao radar deste festival, que em dez edições fez do território a sua lona e do público uma comunidade cúmplice.
A edição 2025 traz consigo o selo renovado do Iberesccena – Fundo de Apoio às Artes Cénicas Ibero-Americanas, permitindo integrar propostas vibrantes da Argentina, Brasil e Espanha. Três países, três vozes, três formas de ver e viver o circo. Há algo de novo e de antigo neste gesto de olhar o Mundo de cabeça para baixo – algo que o Trengo sempre soube fazer com leveza e compromisso.
Segredos de bolso
Hoje e amanhã no Covelo, Fernando Nogueira apresenta “Look inside your pocket” às 18. 30 horas, seguido de “Pocket loop”, da companhia francesa Stoptoï, às 19.15 horas e, logo depois, às 19 horas, o Clube Erva Daninha acolhe “Ensayo de una catástrofe”, uma criação intensa da companhia espanhola A Tope. Amanhã, às 21.30 horas, o Teatro Campo Alegre recebe “QOROQ”, uma criação visualmente poderosa do Kolektiv Lapso Cirk.
Sábado, a programação expande-se com “Compaña”, de Xampatito Pato, no Salão Ático do Coliseu, às 16 horas, uma performance de humor absurdo e precisão milimétrica, enquanto no Covelo se apresenta “How much we carry?”, do Cirque Immersif, às 17 horas (repete domingo), seguido de “Cream”, de Jorge Lix/INAC, às 18 horas, “H”, da Cia La Corcoles, às 19 horas, e “Deslizes”, do Coletivo Nopok, às 21.30, espetáculo integrado também no Clube Erva Daninha.
No mesmo dia, às 21.30 horas, o Teatro Rivoli acolhe “Piano rubato”, um espetáculo aéreo e poético de Melissa von Vépy e da companhia francesa Cie Happés. Já no dia 29, “Compaña” repete às 11 horas, no Coliseu, e no Covelo “Cream”, às 18 horas, “Tot Bé”, da Cia Curolles, às 19 horas, e novamente “Deslizes”, às 21.30 horas. Esta programação reúne companhias nacionais e internacionais de referência no panorama do circo contemporâneo, com risco, humor, técnica e poesia.
Trengo fora de cena
A programação não se esgota nos espetáculos. Há oficinas para profissionais, como o workshop “Ferramentas para o circo contemporâneo”, com o coletivo Nopok, no Campus Paulo Cunha e Silva, até sexta. Há lugar para memória e reflexão com a exposição “Cartazes – 10 anos de Trengo” (2 a 23 de junho) e a mostra “Q-Circo” (19 a 29 de junho), ambas no Espaço Agra. E há futuro, com mais uma edição da Bolsa Trengo, a premiar criadores emergentes e a alimentar o que ainda está por vir.
Na sexta, às 10 horas, o Clube Erva Daninha acolhe Empurrão, o encontro entre artistas e programadores – uma tentativa de manter o circo em movimento mesmo depois de desmontada a tenda. Porque o Trengo é isso mesmo: uma energia que não se deixa embalar. Um fôlego que desafia o tempo. Hoje, é só o início, o resto… é só levantar voo.