Aumento do número de dias dos festivais permitiu "recuperação relativa" face à paragem de dois anos. Subida do preço dos bilhetes para 2023 não está prevista, mas faltam dados para a garantia ser total
Corpo do artigo
Balanço positivo em 2022, reservas e incerteza para 2023. Assim vai o estado da arte no que toca aos festivais de música portugueses, regressados após três anos de paragem motivada pela pandemia. Cerca de 75 por cento já se realizaram (dos mais mediáticos faltará apenas o MIMO, que faz a sua estreia no Porto entre 23 e 25 de setembro), totalizando, até esta semana, 213 festivais. Mas Ricardo Bramão, diretor da Aporfest, acredita que o número final poderá equiparar-se ou ultrapassar o de 2019 (287 festivais), sendo que o recorde pertence, para já, ao ano de 2018 (311).
Pandemia, depois guerra, e consequências ainda imprevisíveis no que diz respeito ao preço de combustíveis, energia ou transportes. É nesta tormenta que se move a economia - também a dos festivais - e, apesar da intenção manifestada pelos vários diretores ouvidos pelo JN de não aumentarem o preço dos bilhetes - "Não há ambiente para aumentos", chega a dizer Luís Montez, diretor do Super Bock Super Rock e Meo Sudoeste - , a verdade é que faltam ainda dados para a garantia ser definitiva.
"Mantendo os preços dos bilhetes, dificilmente os festivais poderão apresentar o mesmo produto ao nível do cartaz no próximo ano", diz Ricardo Bramão, que considera que a "recuperação parcial" em 2022 face aos dois anos entretanto perdidos se deve, essencialmente, ao aumento do número de dias em vários festivais (Paredes de Coura ou Nos Alive são bons exemplos) e ao "aumento do consumo graças à ampliação, em muitos festivais, das suas áreas de restauração." Também a subida do preço das cervejas terá sido um contributo: nos festivais que o JN acompanhou, as mais pequenas tinham um custo a partir dos três euros.
Um fator que poderá condicionar o custo de produção, e que já teve impacto este ano, prende-se com a total paragem dos técnicos envolvidos na montagem dos festivais nos dois anos anteriores, o que levou a que "muitos mudassem de vida, aparecendo agora profissionais menos experientes, que precisam de mais horas para executar determinado trabalho, o que também representa uma despesa maior", explica Bramão.
A dimensão do staff na montagem e funcionamento de um festival fica bem patente nos números de Paredes de Coura, que envolve cerca de 1300 pessoas e mais de 70 empresas. Talvez por isso João Carvalho, diretor do festival do Alto Minho, admita que em 2022 houve "o maior investimento de sempre". Mas foi também a "melhor edição de sempre", esticada para cinco dias e com um "retorno que superou as expectativas." João Carvalho diz-se firme na intenção de não aumentar o preço dos bilhetes para 2023, "assim a economia me acompanhe."
Medidas distritais para incêndios.
Já Álvaro Covões é mais prudente: "Este ano batemos o recorde de público no Nos Alive [cerca de 210 mil pessoas nos quatro dias]. Mas só com o evoluir da situação e quando virmos os orçamentos é que vamos perceber o contexto para 2023." E finaliza, lacónico: "Quando há inflação não se aumentam preços: atualizam-se." Luís Montez não olha com tanto entusiasmo para 2022: "Não deu para recuperar a paragem de dois anos.
No Sudoeste e no Super Rock houve quedas de 25% relativamente a 2019." E deixa uma sugestão às autoridades no que toca à gestão dos festivais em contexto de incêndios (recorde-se que o Super Bock Super Rock foi obrigado, este ano, a deslocar-se de Sesimbra para a Altice Arena, em Lisboa, por causa do risco de incêndios): "Tal como na pandemia, deveriam ser aplicadas medidas distritais. Não faz sentido considerar que o risco é o mesmo em Beja ou na costa alentejana."
Pulseiras e copos.
As pulseiras que permitem proceder a pagamentos dentro do recinto não suscitaram ainda a confiança dos diretores contactados pelo JN - "Serão o futuro, mas sem garantias não avanço", diz Luís Montez - e por isso não serão ainda parte da paisagem destes festivais em 2023. Já os copos reutilizáveis, pelas vantagens ecológicas reconhecidas por todos, irão manter-se no próximo ano.