A festa do teatro, em Guimarães, procura afirmar-se como uma oportunidade única para as novas formas de fazer teatro
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A 37ª edição dos Festivais Gil Vicente arranca esta quinta-feira e prolonga-se até 14 de junho em Guimarães. Vão apresentar-se nos palcos da cidade obras que “ajudam a manter vivo o espírito crítico e de intervenção política” desta forma de arte. Destacam-se as duas estreias absolutas: “Se não for tu”, de Era Rolim e “Corre, bebé!”, de Gaya de Medeiros com Ary Zara. A edição 2025 dos Festivais Gil Vicente promete ainda uma viagem alternativa por Shakespeare, conduzida por Marco Paiva, o regresso de Pedro Gil à encenação, a recuperação de Matriarca’ 74”, de Pedro Nunes, uma peça que resultou de uma residência no Centro de Criação de Candoso e a oportunidade para conhecer um talento local, Rita Morais.
O primeiro espetáculo dos Festivais Gil Vicente 2025 é a estreia de “Se Não For Tu”, de Era Rolim, um dos projetos vencedores da 3ª edição do Projeto CASA – iniciativa da Oficina (através do Centro Cultural Vila Flor), do Espaço do Tempo e do Cineteatro Louletano que procura incentivar a experimentação e a emergência de novas linguagens cénicas, apoiando a renovação do tecido artístico nacional. A peça “dança” entre o teatro e o cinema, acompanhando Sueli, uma mulher que perde os pais de forma trágica, num acidente de carro. Sueli quer, obsessivamente, saber o que se passou nos 30 segundos que antecederam o acidente. Na sexta-feira, os festivais continuam em maré de estreia com “Corre, bebé!”, de Ary Zara e Gaya de Medeiros, o projeto vencedor da 7ª edição da Bolsa Amélia Rey Colaço, uma iniciativa d’A Oficina (através do Centro Cultural Vila Flor), do Teatro Nacional D. Maria II, do Espaço do Tempo e do Teatro Viriato. Nesta peça, com uma forte componente autobiográfica, um casal de pessoas transexuais pretende ter um filho. No fim do espetáculo, o público pode ficar pelo ‘foyer’ porque está prevista uma conversa com os artistas.
No sábado (dia 7), a "Enciclopédia da vida sexual", marca o regresso à encenação de Pedro Gil, num trabalho em que também foi responsável pelo texto e que é cocriada e interpretada por Ana Isabel Arinto, Danilo Da Matta, Diogo Andrade, Katrin Kaasa, Mário Coelho, Raquel Castro, Sara Inês Gigante e Tânia Alves (Voz Off). A protagonista desta peça tinha prometido a si própria que não se voltaria a apaixonar por um monogâmico, mas aconteceu. Para esconder que é poliamorosa vai precisar da ajuda e da cumplicidade da sua família e amigos. No final desta comédia também está prevista uma conversa com Pedro Gil.
Na quinta-feira (dia 12), a peça “Matriarca’ 74”, de Pedro Nunes, é aquilo que Rui Torrinha classifica com “um momento de resistência à voragem do tempo”. A peça que resultou de uma residência no Centro de Criação de Candoso, em Guimarães, “circulou pouco, por isso e porque merece, achamos que devia voltar ao palco”. A peça é uma conversa entre uma avó e um neto – uma atriz e um ator –, sobre o poder revolucionário da voz, da escuta e do silêncio. Fala do feminismo de uma mulher septuagenária, um Abril por cumprir, as dinâmicas próprias a uma família de artistas e os medos do amanhã. Pedro Nunes foi um dos cinco artistas selecionados pelo programa “Artistas Douro” da mala voadora, que contou com o apoio d’A Oficina e o financiamento da Câmara Municipal do Porto.
Shakespeare em língua gestual
Na sexta-feira (dia 13) há espetáculo-concerto, com “Viagem a Lisboa”, de Joana Cotrim e Rita Morais, numa uma coprodução da Oficina/Centro Cultural Vila Flor e Teatro-Cine de Pombal. Neste trabalho, a família surge como contexto onde são abordadas as tensões sociopolíticas, o colonialismo, o racismo e a experiência dos "retornados”. No final, o público será convidado para ficar à conversa com as criadoras. No último dia dos festivais, Marco Paiva pega no “Ricardo III” de William Shakespeare para estudar a possibilidade de renascimento de um teatro mais diverso, atento e dialogante com outras linguagens e línguas. O elenco é constituído por Ângela Ibañez, David Blanco, Marta Sales, Tony Weaver, Maria José Lopez e Vasco Seromenho, este espetáculo é interpretado em Língua Gestual Portuguesa e Língua de Signos Espanhola, sendo legendado em Português. O último momento da 37ª edição dos Festivais Gil Vicente é a conversa pós-espetáculo com Marco Paiva.
Ao longo dos festivais, 12 artistas portugueses estarão à conversa entre si, partindo de espetáculos que tenham visto. A iniciativa foi apelidada de “Hipertexto” e a ideia foi lançada por Bruno dos Reis, atual diretor do Teatro Oficina. O objetivo é gerar discussão sobre o que se vai passar nos palcos de Guimarães, “num tempo em que a escrita e a crítica sobre cultura, nomeadamente dos meios de comunicação ‘mainstream’, desapareceu", esclarece Rui Torrinha. Estas conversas, em jeito de correspondência literária, mas que podem acontecer também através dos novos meios, vão dar origem a textos que serão publicados na Comunidade Cultura e Arte, Gerador e Coffeepast.
Os Festivais Gil Vicente são uma organização conjunta da Oficina, do Município de Guimarães e do Círculo de Arte e Recreio. Os espetáculos têm início marcado para às 21 horas e 30 minutos e os bilhetes custam entre 5 e 10 euros.