Compositor ucraniano criou peça já depois da invasão do seu país pela Rússia. É o ponto alto do Festival da Póvoa de Varzim, em Julho. Mas há muito mais: canto gregoriano, polifonias medievais, programas para Rachmaninov, Arvo Pärt ou Bach, em dezenas de concertos.
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A próxima edição do Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim, a decorrer de 7 a 29 de julho, vai acolher a estreia absoluta de "Four sacred chants", obra do compositor ucraniano Valentin Silvestrov, encomendada pelo próprio festival.
O anúncio foi feito na apresentação do programa da 45.ª edição do festival, que também será marcada pela estreia do Ensemble Contemporâneo da Póvoa de Varzim, dirigido pelo maestro Nuno Coelho.
A estreia em Portugal do agrupamento coral Vox Clamantis, a Orquestra de Câmara de Colónia, dirigida por Christoph Poppen, as sopranos Arianna Savall e Rachel Fenlon, e a violinista Antje Weithaas são alguns dos protagonistas do cartaz, que se estende por diferentes locais do concelho e que inclui o 15.º Concurso de Composição da Póvoa de Varzim, além de contar com o jazz do quarteto do saxofonista Ricardo Toscano.
Obra foi composta após a invasão da Ucrânia
"Four sacred chants", a obra de Valentin Silvestrov a estrear na Póvoa de Varzim, foi composta ao longo do último ano, já depois da invasão da Ucrânia pelas tropas russas, em fevereiro do ano passado, que levou o compositor a refugiar-se em Berlim.
Ao longo da escrita desta peça, segundo a organização do festival, Silvestrov "referiu por várias vezes que as palavras começavam a faltar-lhe pelo estado em que a guerra deixou o seu país" e que, por isso, darão lugar à música.
A afirmação enquadra-se na abordagem do compositor ucraniano, nascido em Kiev em 1937, um dos mais perseguidos durante a era soviética, pela capacidade de reflexão e resistência da sua música à violência e ao totalitarismo.
Silvestrov é um dos mais elogiados compositores contemporâneos pela crítica internacional, desde a sua revelação no Ocidente, no final da década de 1960, por iniciativa do compositor e regente italiano Bruno Maderna.
Mas há muito mais para ver e ouvir
O 45.º Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim (FIMPV) abre no dia 7 de julho com a tradicional conferência do musicólogo Rui Vieira Nery, numa sessão que, desta vez, conta com o pianista Rodrigo Teixeira, vencedor do Prémio Jovens Músicos 2023, num concerto que assinala os 150 anos do nascimento de Rachmaninov.
A soprano Arianna Savall, com Peter Johansen e o agrupamento Hirundo Maris, abrem a programação de concertos no dia 8 de julho, com o programa "A Rosa do Mar", que conta com poetas catalães, escandinavos e portugueses, entre os quais o poveiro Aurelino Costa.
No dia 12, estreia-se em Portugal a soprano Rachel Fenlon que se acompanha a si mesmo ao piano. Fenlon interpretará "Winterreise" ("Viagem de Inverno"), de Schubert.
Dois dias mais tarde, o agrupamento coral estónio Vox Clamantis, especialista em Canto Gregoriano e Polifonia Medieval, oferece "um dos concertos mais aguardados desta edição", segundo a organização do festival, que sublinha a sua proximidade à "tradição coral existente na Póvoa".
Na estreia portuguesa, entre outras peças, Vox Clamantis interpretará "Drei Hinterkinder aus Fatima" ("Os três pastorinhos de Fátima"), de Arvo Pärt.
O compositor barroco Johann Sebastian Bach merecerá a atenção da Orquestra de Câmara de Colónia, em 15 de julho, numa abordagem que combina o violoncelo de Anja Lechner e o acordeão de Goran Stevanovich. O programa incluirá ainda obras da compositora russa Sofia Gubaidulina.
Concurso de composição é no dia 16 de julho
O concerto do 15.º Concurso de Composição da Póvoa de Varzim acontece a 16 de julho, com o novo Ensemble Contemporâneo da Póvoa de Varzim. Para a organização, trata-se de "um grande passo, a concretização de um sonho, de uma visão: a criação de um Ensemble com músicos excecionais dirigido por Nuno Coelho, maestro convidado da Orquestra Gulbenkian e principal da Orquestra do Principado das Astúrias".
O programa, além das peças a concurso, incluirá Ravel, Ibert e Ysaye, e também "4 Miniaturas Ibéricas", de Francisco Coll, "obra colossal inspirada em Portugal e Espanha e pela primeira vez tocada no nosso país", segundo a apresentação do concerto.
Atuações do Woodpeckers Quartet, do pianista Zoltán Féjérvári, vencedor do Concours International de Montreal, da violinista Antje Weithaas, em dois recitais (a solo e com o pianista Thomas Hoppe), e da Orquestra Metropolitana de Lisboa, com o maestro Pedro Neves e a pianista Sasha Stychkina, vencedora do Concurso Internacional Marguerite Long, em 2019, são outras propostas ao longo de julho, que antecedem o fecho do festival.
O concerto de encerramento, no dia 29 de julho, conta com a Orquestra Gulbenkian, dirigida por Valentyn Uryupin, com a pianista Viktoria Postnikova, num programa que conjuga obras de Rachmaninov e Stravinsky.