O Festival Internacional de Marionetas do Porto entra na sua reta final. Esta sexta-feira, às 21.30 horas, o Teatro Constantino Nery, em Matosinhos, recebe um dos espetáculos mais apetecíveis desta edição, "Sorry boys", da italiana Marta Cuscunà.
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"Sorry boys", de Marta Cuscunà, é baseado no caso real de Gloucester, nos Estados Unidos da América, quando 18 adolescentes engravidaram simultaneamente.
Marta Cuscunà conta que soube da história através do cinema: "tomei conhecimento deste caso através do documentário "The Glouscester 18". Tudo começa em 2008, com um zumzum numa escola em Gloucester, nos Estados Unidos. Há 18 meninas grávidas numa escola e não parece ser acidental. "A história é revelada: planearam juntas a gravidez, como parte de um pacto secreto, para criar os filhos numa espécie de comuna feminina. Este filme foi classificado em Itália para maiores de 14 anos e eu quis pesquisar quais as razões para esta censura, dado não existirem cenas de sexo, nem de violência explícita", conta Cuscunà. Acrescentando que o seu espetáculo que já circulou em vários países europeus, mas, não circula em Itália porque "não é considerado didático".
A história de Gloucester salta para a ribalta quando o diretor da escola fala sobre o tema, num jornal nacional, tornando a vida privada das 18 meninas, um evento mediático que choca toda a comunidade em Gloucester. Mas, permanecem sem respostas. As meninas "ficam caladas, e a comunidade está perturbada pelo facto de a vida sexual das suas filhas se ter tornado alvo de mexericos em talk shows por todo o mundo" conta a encenadora.
"Uma delas admite ter decidido criar um novo mundo e uma nova família após presenciar um terrível femicídio. Esta descoberta foi para mim um sinal alarmante", revela.
Encontrou então outro documentário "Breaking our silence " onde o chefe de polícia de Gloucester explica que o seu departamento recebia diariamente relatos de violência familiar masculina. "E relata dados impressionantes: 380 denúncias de violência doméstica num ano e 179 prisões, numa comunidade de 30 mil moradores", detalha.
O documentário mostra como 500 homens organizaram uma marcha nas ruas da cidade para sensibilizar a comunidade sobre o problema, intitulando-se "homens contra a violência". "O que sustenta a ideia que tenho desde sempre : a luta contra o patriarcado é libertadora para os homens, a masculinidade imposta é castradora para eles", reflete a encenadora que é também ativista .
Para o espetáculo Paola Villani, cenógrafa montou duas fileiras de cabeças decepadas, como troféus de caça. As raparigas foram retiradas de cena. De um lado estão os adultos: os pais, o diretor, a enfermeira da escola. Do outro lado, os jovens pais adolescentes, os inseminadores das raparigas, todos pendurados como troféus de caça, todos pregados na parede por uma história que os encontrou despreparados. "Sorry boys" é alusivo ao facto de eles serem usados
"As cabeças foram moldadas na cara de amigos nossos e são ativadas por um dispositivo feito de travões de bicicleta, as vozes são todas interpretadas por mim" diz, entre risos, Cuscunà. O facto de tratar um tema pesado destes, com marionetas permite criar empatia com o público, garante a encenadora. Premissa a conferir esta sexta-feira, às 21.30 horas.