Aquele que é considerado o festival mais inclusivo de Portugal, ao juntar em palcos setubalenses jovens com necessidades especiais e de diversas etnias, vai este ano destacar as memórias dos mais velhos, através da música.
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Cerca de 300 crianças estiveram ao longo do ano em três lares de Setúbal para criar músicas a partir das memórias dos mais velhos e vão apresentá-las em público num concerto no Fórum Luísa Todi na manhã de domingo, dia 26 de maio. No concerto de abertura, Beatriz Nunes e a sua banda de jazz vão dar ao público uma amostra da música composta pelas crianças.
O Festival de Música de Setúbal decorre de 23 a 27 de maio em vários espaços do concelho de Setúbal, desde o Fórum Luísa Todi, Palácio da Bacalhoa, Museu do Trabalho entre outros.
Também no Museu do Trabalho, no sábado dia 25, a tónica será dada aos idosos, desta feita a antigas trabalhadoras que partilharam as suas vivências nesta antiga fábrica de conservas, memórias essas transformadas em música. Ian Ritchie, diretor artístico do certame, explicou, terça-feira, em conferência de imprensa, que a tónica da nona edição do festival em volta dos mais velhos deve-se à crescente discussão, a nível mundial, dos efeitos da demência. "A demência assola toda a população mundial e vamos mostrar como, através da música, podemos partilhar as memórias dos mais velhos".
Em Inglaterra já temos hospitais a substituir antibióticos por terapia musical
Os efeitos da música da saúde vão ser discutidos no segundo simpósio, único em Portugal, que vai decorrer no Fórum Luísa Todi nos últimos dias do festival. "Em Inglaterra já temos hospitais a substituir antibióticos por terapia musical e talvez esteja na altura de Portugal seguir o exemplo", referiu o diretor do festival durante a apresentação. A ideia de discutir o assunto surgiu há cinco anos quando foi criada a Youth Ensemble, um grupo de músicos jovens setubalenses, alguns com necessidades especiais. "Sabemos já que a música muda a vida de todos, agora é preciso provar que pode ser uma terapia em certos casos da medicina", afirmou Ian Ritchie.
A presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, destacou, igualmente, o contributo do festival para a mudança de mentalidades através da música. A autarca reafirma o caráter único do Festival de Música de Setúbal, evento repleto de "significados e estados de espírito", que se traduz numa "mostra de músicos e de músicas em que se evitam os sons que, por vezes, poluem os nossos quotidianos".
O certame reuniu ao longo dos nove anos 12 mil crianças, algumas das quais enveredaram pelo ensino artístico no estrangeiro e que agora regressam para mostrar o que aprenderam lá fora. A Camerata, grupo onde se incluem os oito jovens setubalenses que estudam música em Inglaterra, Suécia e Holanda, atua no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal no dia 24, sábado, a partir das 18 horas.
Finalmente, e como o festival privilegia pessoas com necessidades especiais, há a oportunidade de assistir ao Headspace Ensemble, que inclui o inovador instrumento, Hi-note, criado por Clarence Edoo, tetraplégico. O artista não vai poder comparecer devido a problemas de saúde "Este instrumento é demonstrativo da música inclusiva, apreciada por todos", concluiu o diretor artístico do festival. A banda de Clarence Adoo, Headspace Ensemble, entra em palco no domingo, 26 de maio, no Fórum Luísa Todi a partir das 19 horas e na segunda-feira, 27, a partir das 18 horas, no mesmo palco.