Festival leva a São Miguel, Açores, 60 bandas e artistas de 17 países, num “encontro de geografias e experiências”. Começa amanhã e segue até sábado com número recorde de projetos açorianos.
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Risco. Diversidade. Contrastes. São algumas das palavras-chave do Tremor, festival que se realiza num dos lugares mais exuberantes do país, a ilha de São Miguel, nos Açores, entre amanhã e 12 de abril, e que traz à sua 12.ª edição 60 projetos musicais de 17 países. Além dos concertos ao vivo, o programa inclui caminhadas performativas, atuações em lugares secretos, uma nova secção que quebra fronteiras entre a música e outras artes, atividades para as famílias, conversas, residências e um deslumbramento constante com a paisagem insular.
É mesmo nesse estreitar de relações com o território que está uma das saliências de um festival “sem fórmula fixa, mas que tem na inovação e no risco a sua marca transversal”, diz António Pedro Lopes, da direção do festival.
Se o Tremor se faz do “encontro de geografias e de experiências”, é também espaço de afirmação da cultura local e dos seus artistas, o que se traduz, este ano, na maior participação de sempre de músicos açorianos – são mais de um terço do cartaz: 22 nomes, entre convidados diretos, projetos selecionados numa “open call” que recebeu 52 propostas oriundas de sete ilhas, e ainda os concertos e showcases que resultam da parceria com a Rádio Vaivém: Canto, Flipping Candy, Melrose ou Valério AZ.
“Imersividade total”
Na senda do inconformismo do Tremor, que se desvia teimosamente dos formatos e propostas dos festivais mais convencionais, surge este ano o Arrepio, espaço para a imbricação da música com a performance e as artes visuais, que promete “imersividade total”. A estrear este segmento estará o coletivo berlinense 33, que já levou as suas “esculturas sonoras” ao Moma de Nova Iorque e ao KW de Berlim. Cruzam ópera, tecno e música industrial em ambientes surrealistas desenhados por luz e som.
Quanto ao bloco principal do Tremor 2025, os concertos sempre recheados de números emergentes e exploratórios, guiamo-nos por algumas sugestões de António Pedro Lopes. Três propostas africanas são as primeiras a ser endossadas: os Kulu Miziki, do Congo, fabricam os seus próprios instrumentos com materiais recicláveis e produzem afro futurismo com tintas punk e experimentais; Kabeaushé, uma “espécie de Michael Jackson do Quénia”, diz o diretor, “um showman exuberante, performativo, celebratório”; e os Fidju Kitxora, que se movem entre Cabo Verde e Portugal, praticam uma eletrónica de batida pujante, entrançada em funaná, semba e kuduro.
Figurões: Oko e Kekler
Passando para França, outro nome com raízes africanas – Oko Ebombo, “um figurão, performer, bailarino, que teve uma história curiosa com David Bowie”, conta Lopes: “O Bowie viu-o a atuar no metro e disse-lhe que ele era a maior sombra que já tinha visto, e o francês veio a compor um tema chamado ‘Black Bowie’”. Joseph Kekler é outro dos destaques: “Vai do cabaret e da ópera à spoken word e ao experimentalismo; tanto fala sobre um GPS, como sobre ‘trips’ com cogumelos”, diz o responsável. O norte-americano foi já alvo de longo artigo laudatório no “The New York Times”. A escocesa Clarissa Connelly é também recomendada: “Tem voz etérea e esvoaçante e o disco de estreia [“World of work”, 2024] teve sucesso fulgurante”. É folk nórdica em ambientes íntimos e cósmicos.
Puxando a brasa à sardinha caseira, o diretor indigita o projeto José Pinhal Post-Morten Experience, um “coletivo de culto, de cariz quase evangélico”, que homenageia o cantor romântico dos anos 1980. Entre outros músicos que irão desfilar no Tremor, conta-se Ana Lua Caiano, Romeu Bairos, Keeley Forsyth, Kassie Kurt, Confort ou Exotic Gardens.