Filandorra veste-se de negro no Dia do Teatro contra cortes do ministério da Cultura
Vestidos de negro e de boca tapada, os atores de A Filandorra-Teatro do Nordeste aproveitaram a efeméride do Dia Mundial do Teatro, assinalada, esta quarta-feira, para mostrar que "A morte saiu à rua num dia assim", em Vila Real, como forma de protesto contra o ainda ministro da Cultura Pedro Adão e Silva.
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O ato performativo designado "O cutelo do Adão" incluiu um cutelo feito em aço de Trás-os-Montes e um enorme diabo vermelho, no alto de umas andas, que tinha a cara do ministro Pedro Adão e Silva e que tentava cortar a cabeça aos atores.
A companhia mostrou o desagrado relativamente ao ministro “defensor das linhas de corte”, explicou o diretor da Filandorra, David Carvalho, uma vez que em 2023 a companhia não contou com qualquer apoio financeiro do Estado. “Foi um ato de protesto, com imagens muito sugestivas. O cutelo é um instrumento cortante. Todos os atores estavam vestidos de preto, com uma venda preta na boca a simbolizar o que é o ministério da Cultura atual, que fica até amanhã ou depois. Nos vários concursos que houve, nós tivemos zero do Ministério, quando temos 30 câmaras por trás e na altura éramos mais de 20 pessoas e hoje mantemos só 15” deu conta David Carvalho.
A ação acontece um dia antes do primeiro-ministro indigitado, Luís Montenegro, apresentar o seu Governo ao presidente da República, o que está marcado para esta quinta-feira. "O diabo apareceu, com música transmontana, da zona de Vinhais, misturada com a gravação do próprio ministro a dizer ‘linhas de corte, linhas de corte, recordando que há um ano na Assembleia da República defendeu as linhas de corte”, acrescentou.
O elenco foi salvo por um anjo vestido de branco, o que remete para o "Auto da Barca do Inferno", encarnado por uma jovem de 12 anos, munida de um molho de cravos que os oferece aos atores, simbolizando a liberdade. “Assim, ficam em liberdade e encostam o diabo para longe, para que nunca mais apareça. Também se ouve o hino nacional, em respeito por uma nova governação e um novo ministro que reponha aquilo a que temos direito. A esperança é a última a morrer”, defendeu David Carvalho.
A Filandorra inspirou-se para esta performance em António Costa, primeiro-ministro cessante. “Numa ocasião na Assembleia da República ele [António Costa] disse que o Diabo ainda não tinha aparecido, mas nós em Trás-os-Montes fizemo-lo aparecer. É uma imagem muito sugestiva inspirada nos diabos que há por todo o Nordeste Transmontano”, descreveu o responsável pela companhia de teatro.
Quase 40 anos de existência e 11 trabalhadores do quadro
Em 2023, a Filandorra não foi contemplada com nenhum tipo de apoio financeiro da Direção-Geral das Artes (DGARTES).
Criada há 37 anos, a companhia conta com um orçamento anual entre os 400 e os 500 mil euros e em média tem cerca de 30 pessoas a trabalhar, dos quais 11 são do quadro. É uma companhia muito ligada ao território de Trás-os-Montes e Alto Douro, trabalha em rede com 25 câmaras e mais cinco municípios compram-lhes espetáculos. “Este ano crescemos muito para a zona do Nordeste, chegamos a Miranda do Douro e Freixo de Espada à Cinta, bem como somos apoiados pela Câmara de Vinhais, onde temos uma escola a funcionar. Também chegamos a Amarante, ao Douro Sul, nomeadamente a Cinfães, a Resende e Pesqueira. Até vamos a Figueira de Castelo Rodrigo (Guarda)”, enumerou o diretor de A Filandorra.