Homenagem a Manoel de Oliveira e novo filme de Filipa Reis e João Miller Guerra entram no programa do Festival de Cannes, em maio.
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Com o anúncio da seleção de filmes nas seções paralelas de Cannes, Quinzena dos Cineastas (que substitui a antiga designação de Quinzena dos Realizadores), Semana da Crítica e ACID, está praticamente concluída a informação sobre o que será visto no festival francês, a partir do próximo dia 16 de maio.
Falta ainda saber quais as curtas-metragens em competição, o programa da Cinef, dedicado a filmes de escola, e as talvez duas novas entradas na competição à Palma de Ouro, a serem muito provavelmente anunciadas ainda esta semana.
E se o cinema português estava ainda praticamente ausente, contando-se apenas João Salaviza como correalizador de um filme essencialmente brasileiro ("A Flor do Buriti", que Salaviza dirigiu com a sua mulher, a cineasta brasileira Renée Nader Messora), há agora mais novidades, sobretudo na Quinzena.
Os 30 anos de "Vale Abraão"
Já era conhecido o cartaz da edição deste ano, com Leonor Silveira esplendorosa no "Vale Abraão", de Manoel Oliveira, cujo trigésimo aniversário da presença na Quinzena será assinalado com uma sessão especial com a projeção de uma cópia nova. E agora, pela segunda vez, a Quinzena apresenta o que chama a Fábrica dos Cineastas.
O programa visa a emergência de novos talentos, permitindo a quatro binómios de jovens cineastas, um deles regional, associado a um internacional, de correalizarem uma curta-metragem. Depois dos Balcãs, a Fábrica deste ano é dedicada ao Norte de Portugal.
A produtora portuguesa Bando à Parte, sediada em Guimarães, e a francesa DW associaram-se, numa iniciativa que teve o apoio de instituições portuguesas como o ICA, a RTP, FILMAPORTOICA, câmaras municipais do Porto e de Guimarães, Agência da Curta Metragem, Curtas Vila do Conde e Olho de Vidro, além da francesa Cineli Digital.
Assim, os realizadores portugueses André Guiomar, Mário Macedo, Melanie Pereira e Mariana Bártolo serão acompanhados, respetivamente, por Mya Kaplan (Israel), Dornaz Hajiha (Irão), Alexandru Mironescu (Roménia) e Guillermo García Lopex (Espanha). Além de mostrarem os seus filmes, os oito cineastas terão a possibilidade de apresentar os seus projetos de longa-metragem a profissionais da indústria, como produtores, distribuidores e vendedores internacionais.
"Légua", de Filipa Reis e João Miller Guerra, em destaque
Também na Quinzena vai estar a mais recente longa-metragem realizada por Filipa Reis e João Miller Guerra. "Légua", produzido por Uma Pedra no Sapato, em coprodução com Laranja Azul (Portugal), KG Productions (França) e Stayblack
"Productions" (Itália), conta com a participação de Carla Maciel, Fátima Soares e Vitória Nogueira da Silva nos papéis principais.
Segundo a nota já divulgada pela produtora, a ação do filme decorre numa antiga casa senhorial situada no norte de Portugal. Ali, Ana ajuda a sua amiga Emília, a velha governanta determinada em cuidar do casarão desocupado pelos donos que nunca lá vão. Acompanhando a mudança das estações, Mónica, filha de Ana, desafia as escolhas da sua mãe. Três gerações de mulheres que procuram compreender o seu lugar num mundo que se desvanece.
A Quinzena, que mostrará o último Michel Gondry ("Le Livre des Solutions"), arranca com "Le Procés Goldman", de Cédric Kahn e conclui-se com o inevitável Hong Sang-soo ("In Our Day"), determinado a ter um filme todos os anos nos maiores festivais do mundo.
Guerra colonial na secção ACID
Se a Semana da Crítica, destinada a primeiros, segundos e terceios filmes, não tem este ano nenhum título de produção nacional, o mesmo não se pode dizer da seção ACID, menos mediática mas em crescendo de importância no universo de Cannes. Trata-se de "Nome", do cineasta da Guiné-Bissau, Sana Na N"Hada, uma coprodução daquele país com França, Angola e a portuguesa LX Filmes.
Fotografado por João Ribeiro, o filme passa-se em 1969, durante a guerra colonial. Nome, a personagem central do filme, deixa a sua aldeia para se juntar aos guerrilheiros do PAIGC. Depois da independência, Nome regressa como herói, mas essa efémera alegria cedo dará lugar à amargura e ao cinismo.