Comédia romântica dramática cipriota, "Find me falling" estreou sexta-feira na Netflix. É fresca, cativante e com sentido de humor certeiro.
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John Allman, roqueiro aposentado, lava os dentes na casa de banho rústica da sua casa rústica enquanto toca na rádio a música que o catapultou para uma fama de que quer fugir. Sem querer, parte o copo de cerâmica onde pousa a escova e magoa-se nos cacos - que são do copo, mas são também seus. "Girl on the beach", single do nova-iorquino, nos tops das rádios décadas após a sua estreia, é um tema leve sobre paixões de verão mas tem um peso que só o norte-americano carrega, por estar ligada a um término amoroso devastador que marcou o início da sua carreira.
Desfeito em pedaços e para fugir aos vestígios amargos da vida de rock star e de um desgosto feito cicatriz, John (interpretado por Harry Connick Jr.) foi viver para uma cabana remota nos penhascos de uma vila no Chipre, lugar onde, viria a descobrir, os desesperadamente desalentados vão para cometer suicídio. Para impedir os saltos para o abismo e, ao mesmo tempo, preservar o seu espaço e a sua dor, impõe uma cerca à sua volta, que tem tanto de literal quanto de metafórica.
E é nesse processo de auto-isolamento que acaba, ironicamente, por criar uma rede de apoio na vila, vestindo à força a pele de terapeuta enquanto se cura a si próprio também e se cruza inesperadamente com o amor passado que lhe inspirou o single.
Embora com reviravoltas que não surpreendem, "Find me falling", o primeiro filme cipriota a ser transmitido mundialmente pela Netflix, é uma comédia romântica fresca e cativante, de sentido de humor certeiro que encaixa de forma perfeita nos momentos de drama.
Com um cenário paradisíaco como pano de fundo e um enredo que exalta a cultura e a música cipriotas, a realizadora Stelana Kliris dá-nos 90 agradáveis minutos de reflexão, com uma narrativa que engrandece o poder da comunidade e do companheirismo, por oposição à autossuficiência.