Novo disco “Romance” abre a paleta de assuntos e de sons da banda irlandesa que passsou em agosto por Paredes de Coura.
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De rapazes anónimos de Dublin, os Fontaines DC passaram a quinteto garrido e flamejante nos últimos meses. Mudança de visual com reflexos no som que produzem, também ele mais colorido e exuberante. “Romance”, quarto esforço da banda , lançado em agosto, é simultaneamente mais acessível e impenetrável. Há pop melódica e orelhuda, mas a conversa é mais cifrada.
Grian Chatten, voz inconfundível dos Fontaines, elemento unificador de todas as derivas e experiências, fala da influência da manga japonesa e do cinema italiano no novo trabalho. E diz, e nota-se, que o disco é mais uma coleção de “globos de neve”, de instantâneos emocionais e visuais, do que uma narrativa coerente em torno de um tema central, como largamente sucedia nos outros discos, onde a questão da identidade irlandesa surgia amiúde.
Mais universais, não menos problemáticos. Veja-se o conformismo cáustico de “In the modern world”, tema assumidamente inspirado no universo de “desilusão tensa” de Lana Del Rey. E a frase “In the modern world I don’t feel anything/In the modern world I don’t feel bad” caberia sem atrito nas paisagens glamorosas e ambíguas da cantora.
“Favourite”, que encerra o álbum, e tem sido louvada como uma das melhores canções da banda, é também portadora da indefinição: é varrida pela esperança e pela tristeza numa equalização hesitante.
Musicalmente, há diversificação. Veja-se a descida aos sintetizadores escuros em “Romance”, que abre o disco. Está lá a costela retorcida dos The Cure e a densidade dos Depeche Mode.
Ou a piscadela de olhos ao nu-metal nas recuperações de fôlego guturais de “Starbuster”.
Ou o riff afiado no contexto emocional de “Here’s the thing”, que se inspirou numa discussão entre elementos da banda.
Não serão os campeões do século, como já apregoam certos críticos, mas neste território – pós-punk, indie rock – são do mais monumental que há para ouvir.