Pioneiros do stoner metal marcaram a fogo a primeira noite do Sonic Blast Fest 2025, que termina sábado em Vila Praia de Âncora com Circle Jerks e Molchat Doma.
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As zonas de mosh e encontrões, habituais nos concertos musculados, estão geralmente localizadas num setor mais próximo do palco e são animadas, quase sempre, pelo público mais jovem e irreverente. Poucas vezes alastram para lá desse núcleo, deixando a salvo outros espectadores que preferem manter a cerveja intacta.
Pois na quinta-feira à noite foi impossível escapar ao vórtice no concerto dos Fu Manchu, que alargaram o mosh a toda a plateia, envolvendo jovens e maduros, derrubando líquidos, impedindo jornalistas de tirar as suas notas.
Foi a cacetada principal na primeira noite plena, depois do warm up de véspera, do Sonic Blast Fest, que termina este sábado - ou já madrugada de domingo - na Praia da Duna dos Caldeirões, em Vila Praia de Âncora, no Alto Minho.
Oriundos da cena do deserto de Palm Beach do início dos anos 1990, onde se reuniam músicos para jam sessions sustentadas por geradores e cogumelos mágicos, os Fu Manchu pertencem à elite do novo género que ali se criou - o stoner rock, composto por influências do blues, do metal, do grunge e do psicadelismo.
Provocam incêndios na pradaria com um som abrasador e visceral, picado por riffs cauterizados e pelos refrões catárticos debitados por Scott Hill. Largaram temas do último álbum, "The return of tomorrow", e viajaram pela discografia e pelas memórias até ao registo de estreia, "No one rides for free" (1994). Só nos curtos intervalos entre músicas foi possível algum equilíbrio naquele mar de corpos desvairados.
Na primeira noite, houve ainda o metal de camadas atmosféricas dos belgas Amenra, cujo vocalista, Colin H. van Eeckhout, desenvolveu o hábito de puxar pela garganta de costas para o público. São densos, insidiosos, inclementes. Escutou-se o doom metal cravejado de experiências dos norte-americanos King Woman, que se estrearam na Europa. O pós-punk injetado com hardcore dos britânicos Ditz. Ou o industrial frenético dos portugueses Máquina.
Atingindo a dimensão de festival médio nos últimos anos, com mais de 5 mil pessoas por dia, o recinto do Sonic Blast parece já algo desajustado ao novo paradigma - é demasiado estreito e atravancado, dificultando a circulação e a visibilidade para os palcos. Um item que seria importante rever para se gerar essa concordância entre a qualidade do cartaz e as boas condições para o fruir.
O festival termina este sábado (confira aqui os horários e as bandas do último dia) com dois números em destaque: a cold wave dos Molchat Doma, que nos lembram que a Bielorrússia existe, e o hardcore primitivo e inigualável dos Circle Jerks, californianos em erupção há quase 50 anos.