O italiano Giorgio Trevisan, considerado um dos últimos grandes desenhadores italianos clássicos de banda desenhada, faleceu a uma semana de completar 90 anos, após um período de internamento no Hospital Schiavonia, em Monselice.
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Nasceu em Merano, a 13 de outubro de 1934, e aí viveu até aos 20 anos, obtendo o diploma do ensino secundário clássico. Autodidata, direccionou a sua vida para o desenho depois de, ainda muito jovem, ter ficado impressionado com uma enciclopédia infantil ilustrada por pintores ingleses do final do século XIX e início do século XX.
A mudança para Milão, em meados da década de 1950, levou-o a ingressar no Studio Creazioni D'Ami, onde se estreou com um episódio da série "Cherry Brandy", tendo igualmente posto a sua arte ao serviço da editora Audace. Mais tarde, mudou-se para a editora inglesa Amalgamated Press, onde fez o traço a lápis de inúmeras histórias de guerra, um género então na moda, em edições de pequeno formato, como foram exemplo em Portugal as revistas "Falcão" e "Condor".
Numa carreira em que alternou trabalhos na área de banda desenhada com pintura clássica, explorando temas como paisagens, figuras mitológicas e temas religiosos, tendo realizado mesmo inúmeras exposições, no seu país e no estrangeiro, na década de 1960, após se ter mudado com a esposa para Este, Trevisan desenhou igualmente para o "Corriere della Sera", o "Corriere dei Piccoli", o "Corriere dei Ragazzi" e o "Messaggero di S. Antonio".
No final da década de setenta, foi contactado pela Sergio Bonelli Editore para se juntar à equipa criativa de "Ken Parker", um western humanista, com argumento de Giancarlo Berardi. A ligação com este último iria prolongar-se, quando foi um dos escolhidos para desenhar "Julia", a criminóloga de Garden City, um policial em que, mais uma vez, o carácter humano é predominante, sendo mais importante as motivações dos criminosos do que a sua descoberta
Dotado de um traço realista, duro e semi-barroco, que lhe serviu tanto para representar a temática bélica quanto os grandes espaços do Oeste selvagem, passando pelos cenários urbanos contemporâneos ou passados, Trevisan soube imprimir o seu cunho pessoal às bandas desenhadas em que trabalhou, salientando-se na sua bibliografia, para além das duas séries já referidas, as histórias de Sherlock Holmes que fez para a revista "L'Eternauta" na década de 1980.
Em declarações ao jornal italiano "Il Gazzettino", o seu filho Pietro recordou o legado do pai: "Procurou a beleza na arte, escolhendo temas nos quais se sentia representado, desde nus artísticos a criaturas fantásticas. Nas suas pinturas fugia da realidade: nisso era um verdadeiro mestre".