Novo álbum da banda norte-americana, “People who aren´t there anymore", é afirmação de uma forma estável e madura.
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Ganharam fama mundial numa atuação memorável no Late Show de David Letterman, em 2014. Samuel T. Herring apresentou-se com honestidade radical, mesclando a pose de crooner com os espasmos de um Henry Rollins ao cantar a dorida “Seasons (waiting on you)”, que foi eleita a canção do ano pela New Musical Express. Ali se condensava toda a arte dos Future Islands: synth pop elegante e emocional e a voz espessa e profunda de Herring. Dez anos depois, a banda refinou todas as suas qualidades em “People who aren´t there anymore”.
Sétimo trabalho desde a estreia, em 2008, com “Wave like home”, e o quarto com selo da 4AD, o novo álbum deflete da toada otimista e esperançosa – que habitualmente culminava canções que atravessavam várias matizes do sentimento amoroso – para um lugar de crónica sobre a perda: a relação de Herring durante a pandemia, diluída pela distância e pelos confinamentos, tema central do disco, mas também a morte de um amigo por overdose em “Give me the ghost back”. São doze faixas sobre pessoas que já cá não estão.
Partiram de um núcleo musical difuso os quatro habitantes da Carolina do Norte, com os gostos a variarem entre o hip hop, o metal ou o grunge, mas encontraram-se na melancolia de Joy Division – e o baixo de Peter Hook é um dos signos de Future Islands –, no tom alternadamente glacial e caloroso dos Kraftwerk, e na grandiloquência dos Orchestral Manoeuvres in the Dark. Adicionaram-lhe o conhecimento de poesia – e neste álbum há vestígios de Yeats, Wordsworth ou Roethke. O resto é a alma (imensa) de Herring.
A canção-chave talvez seja “Thief”, onde o ritmo cinético serve de base a uma confissão onde perpassa o ardor passional, o desespero e o conformismo estóico. São esses estados que vão surgindo aleatoriamente em temas que convidam à reflexão, ao movimento e à catarse, por vezes tudo na mesma faixa. Não é álbum de rutura com o passado musical da banda, e aqui e ali poderá apontar-se alguma redundância, é a afirmação de uma forma estável e madura. O futuro dirá se se torna fórmula ou se é posta em causa.
“People who aren´t there anymore”
Future Islands
4AD