Gal Costa celebra 50 anos de carreira, trazendo aos palcos portugueses o espetáculo "Espelho d"Agua". A cantora atua este sábado, no Campo Pequeno, em Lisboa, e no Coliseu Porto, domingo.
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A cantora baiana, "musa do tropicalismo", promete revisitar o reportório infindável de canções que marcam a sua carreira com um espetáculo intimista em que se fará acompanhar apenas pelo músico Guilherme Monteiro no violão e na guitarra. "Canto canções que considero mais emblemáticas da minha carreira. Este é um concerto muito bonito. São temas conhecidos de toda a gente e, toda a gente canta comigo", explicou a interprete.
Gal Costa reconheceu que o mais difícil foi precisamente a escolha de reportório. "Foi difícil, mas, na verdade, queria as canções dos anos tropicalistas. Temas como "Tigreza", por exemplo, que marcaram a minha figura na história da musica brasileira. E muitas dessas canções foram escritas por Caetano Veloso. Não sei como não ter música de Caetano na minha vida. Mas também canto "Folhetim", de Chico Buarque, e coisas de Roberto Carlos", confessou ao JN numa entrevista telefónica.
A cantora considera que este é, sem dúvida, um show que comove as pessoas. "Tem muitos jovens que curtem a minha carreia. Há uma juventude que conhece o meu trabalho mas que nunca teve possibilidade de me ver no palco a cantar essas canções. E isso também me levou a fazer este reportório", disse.
A par dos clássicos a cantora promete para o concentro desta noite ainda algumas surpresas. "Há novidades, a começar pela canção que dá nome ao concerto. 'Espelho d'Água' é um tema composto por Marcelo Camelo (músico que presentemente vive em Portugal). Esta parceria surgiu da ideia de gravar compositores mais jovens que eu nunca tinha gravado. Mas a verdadeira surpresa é o próprio concerto. As canções mais antigas são apresentadas de maneira diferente".
Gal Costa explica que os novos arranjos resultaram da "comunicação musical intensa e da cumplicidade" que tem com Guilherme Monteiro, que a acompanha em palco. "Fomos criando à medida que escolhíamos os temas. Foi muito natural. Por exemplo, "Tuaregue", uma canção que está num dos meus discos mais radicais dos anos 60, é agora apresentada de outro jeito. E depois também canto versões de temas de Bob Dylan e Duke Ellington", contou.
"O Meu Nome é Gal", "Baby", "Meu bem, Meu mal", "Modinha para Gabriela" são algumas das músicas que compõem o alinhamento do concerto, a par dos temas do último trabalho, que conta com músicas de Antonio Cicero, Milton Nascimento e de outros grandes compositores da nova geração como Céu, Mallu Magalhães ou Marcelo Camelo, que assina o tema "Espelho D" Água" juntamente com Thiago Camelo.
"Sempre gostei de musica desde que nasci e sempre dizia que ia ser cantora. Sempre soube que vim ao mundo para fazer o que eu faço. Quando conheci João Gilberto, já era adolescente e ele gostou do meu jeito de cantar - era algo muito novo, muito revolucionário. A bossa nova mudou a cara da música brasileira", explicou. E não esconde que sente orgulho em ser considerada uma das musas do tropicalismo. "Tenho orgulho nisso. Mas também é importante saber-se que tenho uma carreira rica, diversificada e plural que vejo com orgulho. E quero continuar me alimentando de toda essa história para fazer mais coisas".
Gal Costa, de seu nome de registo Maria da Graça Costa Penna Burgos, natural de Salvador da Bahia, estreou-se, em agosto de 1964, no espetáculo "Nós, por exemplo", ao lado de Maria Bethânia, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Em janeiro do ano passado, a edição brasileira da revista Rolling Stone apontou-a como "uma das maiores vozes do Brasil", que, aos 70 anos, renovava o seu público. A revista "Veja" de fevereiro do ano passado, fazendo um balanço do cinquentenário artístico, referiu-se a Gal Costa como "musa eterna do tropicalismo", que "não parou no tempo" e se "continua reinventando".