Guimarães acolhe este sábado novo disco do grupo de Cláudia Efe, num espetáculo criado pelo coreógrafo Rui Horta. A vocalista esteve à conversa com o JN.
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“A cada dia que passa há um novo salto quântico na tecnologia, nem sempre é fácil acompanhar. Há também cada vez mais desavenças e polarização na sociedade, cada vez nos ouvimos menos. O saldo não parece estar a ser positivo. Continua a ser na música que encontramos um estado de disponibilidade para o outro”. As palavras são de Cláudia Efe, vocalista dos Micro Audio Waves, banda de música eletrónica que regressou aos discos, 15 anos depois de “Zoetrope”, com “Glimmer”.
O trabalho conta novamente com a intervenção do coreógrafo Rui Horta. Uma fusão de corpos, natureza e tecnologia num espetáculo que sobe este sábado ao palco do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães.
Foi nesta cidade, numa residência na Fábrica ASA, que se ergueu a concretização cénica de “Glimmer”, que conta ainda com a bailarina e coreógrafa Gaya de Medeiros e o trabalho de vídeo de Stella Horta. O espetáculo estreou em fevereiro no Teatro Aveirense e tem corrido o país, chegando a Lisboa e Porto no outono.
“Tem de haver mais espetáculos a circular pelo interior”, diz Cláudia Efe. “A cultura compete hoje com conteúdos digitais de consumo imediato. É preciso mais conexão e reflexão. Um povo português mais culto, com a sensibilidade mais apurada, vota certamente melhor”.
Delicadas e dançáveis
Mais “luminoso” que “Zoetrope”, na visão da cantora, porque “é nos períodos mais escuros que procuramos iluminação, esperança, recomeço”, e o essencial de “Glimmer” foi trabalhado durante os confinamentos da pandemia da covid-19, o novo disco é “movido pela curiosidade” e não se atém a uma época específica: “Trata de temas universais e intemporais e interessa-se pelo que poderá ser o futuro”, diz Efe.
As canções são delicadas, etéreas, espaciais, propondo escapismo literal, como em “The day we left earth” ou “Pacific airways”, que lembram, no som e no tema, a música dos Air de “Moon safari” e “10 000 hz legend”.
Noutros momentos, são mais musculadas e dançáveis, casos de “Liquid luck” ou “Trojan rabbit”, que carregam a tensão electro de uns Fischerspooner e as asas experimentais da melhor synth-pop de 1980.
O reencontro com Rui Horta, parceiro na construção do universo de “Zoetrope”, completou também o espírito de “Glimmer” – o próprio título surgiu na fase de criação: “Queríamos dar continuidade ao processo criativo do álbum na sua apresentação e convencemos o Rui a embarcar numa nova aventura. Interessava-nos esse olhar exterior e abrangente, somos admiradores dele. Foi um processo natural, falamos imenso sobre a união entre humanos e natureza e a forma como a tecnologia poderá estar ao serviço dessa relação. A filha do Rui, a Stella, trouxe uma visão feminina ao conjunto”.
Após um hiato de 15 anos, onde os membros dos Micro Audio Waves – Cláudia Efe, Flak e C. Morgado – se embrenharam noutros projetos, Cláudia Efe promete agora menos tempo de espera para um novo disco: “Estamos mais maduros, acho que vamos demorar só uns 12 anos [risos]”.