É a primeira série portuguesa na plataforma de streaming Netflix. O JN falou com o realizador Tiago Guedes.
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Um dia histórico na ficção portuguesa. Pela primeira vez, uma série nacional estreia-se na Netflix - "Glória" prepara-se para abrir o caminho a outras produções lusas, numa transmissão para os quase 200 países abrangidos pela plataforma de streaming.
A ação passa-se no RARET, um centro de transmissões americano localizado na vila de Glória do Ribatejo e através do qual é emitida propaganda para o Bloco de Leste durante a Guerra Fria. Um espião do KGB vai tentar sabotar a operação americana enquanto passa informações ao Estado Novo.
A série foi toda gravada durante a pandemia e os castings aos atores chegaram a ser feitos por telemóvel. Afonso Pimentel, um dos protagonistas, contou que se "refugiou" na casa-árvore que construiu para os filhos no meio do campo. Ao JN, o realizador Tiago Guedes lembra esses momentos caricatos. "Neste caso existiram fases diferentes do processo de casting e preparação da série. Houve muitas reuniões por Zoom, em pleno confinamento, e uma fase de casting por Zoom e com o recurso a "self tapes". Tivemos de nos adaptar às circunstâncias".
O cineasta sublinha que esta não foi a única forma pela qual o coronavírus condicionou a produção. "O maior desafio foi, sem dúvida, filmar no meio da pandemia, pois obrigou-nos a muitas mudanças no plano de rodagem, entre limitações de vários tipos".
Sobre a gravação para um colosso da ficção mundial, o experiente realizador garante que não sentiu pressão. "Pressão não é a palavra certa. Mas existe, certamente, um enorme sentido de responsabilidade por estarmos a executar o primeiro original Netflix português, com a qualidade necessária para que se repita este tipo de investimento no nosso país"
"Gatilho" para indústria
Carolina Amaral, Afonso Pimentel e Joana Ribeiro são três dos vários atores de "Glória". Em declarações ao JN, os intérpretes falam sobre as expectativas. "Esta série pode ter uma repercussão para os nossos colegas atores e criar muitas oportunidades em Portugal. Além da Netflix, outras plataformas de streaming podem investir no nosso mercado", diz Carolina Amaral.
"Há possibilidade de mais trabalho, não só para intérpretes como para equipas técnicas. Temos profissionais muito bons nesta indústria e, infelizmente, há poucas hipóteses e poucos projetos a serem feitos. Ter-se outra força a promover o trabalho em Portugal é sempre bom", acrescenta Joana Ribeiro, uma atriz portuguesa que já se internacionalizou há muito.
Afonso Pimentel completa: "O facto de isto ser disparado para 190 países não te salta à cabeça quando estás a rodar. Pensas nisso antes e depois. Quando estás a fazer não pensas. Agora, isto pode ser fixe para todos, para atores, técnicos, produtores, sobretudo para termos mercado. É um excelente gatilho para todos nós, profissionais desta indústria".
ELENCO
Fadista Sara Correia tem participação especial
A fadista Sara Correia tem uma participação especial na primeira série portuguesa da Netflix. Recentemente nomeada para um Grammy Latino pelo mais recente álbum, "Do coração", a cantora interpreta, na série, "Fado perseguição", acompanhada por um combo de jazz, numa referência e homenagem à união histórica entre Amália Rodrigues e o saxofonista americano Don Byas, do qual viria a resultar o disco "Encontro", editado em 1972.