Resultado final da votação dos contratos dos atores de Hollywood é conhecido na terça-feira, mas ainda há claúsulas muito dúbias.
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O acordo alcançado entre o sindicato dos atores SAG-Aftra e a aliança dos estúdios de Hollywood, AMPTP, pode ter acabado com a greve que durava há 118 dias mas não resolveu a discórdia sobre o uso de Inteligência Artificial nas produções. O contrato, que está a ser votado e precisa de uma maioria de votos a favor, para entrar em vigor, foi considerado uma vitória para muitos e recebido com desconfiança por outros.
Na votação inicial, 14% dos membros da direção nacional do sindicato votaram “não”, e é isso que a atriz portuguesa Kika Magalhães pretende fazer também.
“O motivo é que eles não protegem os atores em relação às réplicas digitais”, disse a atriz, radicada em Los Angeles desde 2016. “Eles dizem que sim, que há proteção, mas depois vamos ver nas entrelinhas e não há nada”. Kika Magalhães, cujo último filme, “The Girl in the Backseat”, acaba de chegar à Amazon Prime Video e à plataforma de ‘streaming’ Tubi, aponta para a forma como as réplicas digitais podem ser desastrosas.
“Um ator vai fazer um ‘casting’ e os produtores perguntam se aceita que façam a sua réplica digital. Se o ator disser que não, podem não lhe dar o papel”, exemplifica.Os atores de primeira linha poderão negociar e dizer que não sem perderem o papel. “Mas os pequeninos como nós não trazem tanto dinheiro para o sindicato e eles não nos protegem tanto”, disse.
Réplicas digitais
A atriz duvida da solução avançada por uma das cláusulas, segundo a qual se um estúdio usar réplicas digitais de um ator, este será pago com o correspondente às horas que estaria a filmar. “Isso é muito relativo, porque uma cena pode demorar um mês para filmar. Eles podem dizer que demorou um dia a fazer”.
A atriz Justine Bateman também criticou as brechas que permitem aos estúdios usarem réplicas digitais sem o consentimento dos atores. O resultado das votações será conhecido amanhã. Se houver 50%+1 de votos “sim”, o contrato entrará em vigor durante os próximos três anos.
“Tenho ouvido muitos atores a dizer que vão votar que não”, referiu Kika Magalhães. O seu marido, o ator Chris Marrone, disse que “se a maioria entender totalmente o que está a assinar, então vota não”.
Marrone considerou que o contrato da SAG “afinal não parece uma grande vitória” e que devia definir os atores como seres humanos. É algo que a atriz Katja Herbers também defende, por oposição a “atores sintéticos”. No entanto, a expectativa é de que o “sim” vença, porque a indústria esteve parada demasiado tempo e há um cansaço generalizado.