O Festival internacional de dança contemporânea GUIdance regressa de 2 a 11 de fevereiro a Guimarães, sob o mote "transformação dos tempos e dos corpos". Akram Khan, François Chaignaud, Tânia Carvalho e Marco da Silva Ferreira são os nomes mais palpitantes. A 12.ª edição vem marcada por "uma nova claridade e a ideia de uma nova felicidade".
Corpo do artigo
Respeitando a tradição, o GUidance, organizado pela Oficina, abre na primeira quinta-feira de fevereiro, com uma fórmula de dez espetáculos em dez dias, formações, masterclasses, conversas, debates e exposições que pela primeira vez se diluem na cidade de Guimarães e se alargam a outros espaços além do Centro Cultural Vila Flor. O festival passará pelo Centro Internacional de Arte José Guimarães e pelo recentemente recuperado Teatro Jordão, onde decorreu esta quarta-feira a apresentação.
"São 13 anos de história, com uma edição interrompida pela pandemia, de algo que começou na antecâmara da Capital Europeia da Cultura, um projeto altamente imaterial que reflete um investimento e um dos pontos altos da programação de dança no país - e também do ecossistema da dança. Uma herança do que foi a Semana da Dança e uma força não só sentida na cidade, mas também fora dela", referiu Rui Torrinha, diretor artístico do GUIdance. Acrescentando: "Esta será a edição mais forte, longa e extensa".
A abrir, no dia 2 de fevereiro de 2023, estará o espetáculo "BAqUE", da coreógrafa trans brasileira Gaya de Medeiros, que estreia já esta quinta-feira, no Teatro do Bairro Alto, em Lisboa. No segundo dia, 3 de fevereiro de 2023, segue-se "Blasons +Doesdicon", um programa da companhia Dançando Com a Diferença, sediada na Madeira e dirigida por Henrique Amoedo, que é simultaneamente diretor do Teatro Viriato, em Viseu. O programa é coreografado por François Chaignaud e Tânia Carvalho. Estas apresentações sintetizam o mote do festival "sobre as diferenças que existem nos nossos corpos", sublinhou o diretor artístico.
Todos os corpos
Gaya de Medeiros, presente virtualmente na conferência de imprensa, e recentemente eleita para a rede de dança contemporânea emergente europeia, Aerowaves, sintetizou o seu percurso: "Comecei a dançar na igreja para Jesus, vendo o que a música liberava no meu corpo, depois dancei dez anos numa companhia no Brasil. Quando cheguei a Lisboa fui fazer de drag queen e tentei ser essa pessoa o tempo todo, ao ponto de pouquíssimas pessoas saberem o meu nome verdadeiro. Depois de vários anos dedicada à dança comercial quis dedicar-me à dança contemporânea, mas, como teria de competir com aquelas mulheres que dançam desde os três anos de idade, decidi criar a BRABA uma plataforma para trans e não binários. São cinco pessoas a falar sobre identidade de género".
Nos mesmos moldes, Henrique Amoedo explicou que a companhia Dançando Com a Diferença surgiu de uma epifania que teve quando viu "uma pessoa com deficiência dançar com uma pessoa sem deficiência" e percebeu que esse seria o desígnio. Em 2001 encontrou na Região autónoma da Madeira um sistema de educação especial "muito organizado mas que só contemplava teatro, música e artes visuais" e decidiu implementar a dança, que até então só era feita de uma forma terapêutica para essas comunidades e não em palco. Como se fosse uma utopia onde era preciso vencer a barreira da execução.
Para essa função convida diferentes coreógrafos para trabalhar com a companhia, potenciando "uma formação como uma biblioteca, quanto mais coreógrafos melhor. Cada coreógrafo ajuda a aumentar o vocabulário, mas leva também o que aprendeu de cada um dos intérpretes".
A companhia madeirense Dançando Com a Diferença é a protagonista da primeira saída do festival fora do quartel-general do Centro Cultural Vila Flor, tomando conta do Teatro Jordão, com a apresentação de três peças, as primeiras já no dia 3 de fevereiro. No dia 9, haverá uma revisitação da coreografia "Beautiful people", de Rui Horta, que se voltou a instalar na Madeira para remontar a obra.
Estes dois coreógrafos foram eleitos os embaixadores da dança deste ano pelo serviço de mediação cultural e estarão em quatro escolas do concelho de Guimarães para falar com os alunos. O registo integral da coreografia "Endless", da Dançando Com a Diferença, será também exibido em filme no dia 7, seguindo-se uma conversa entre Henrique Amoedo e Eva Ângelo.
"Um projeto que volvidos mais de dez anos, continua a estar na memória das pessoas, porque fala sobre a dignidade Humana" e que ganhou uma nova premência num tempo em que há uma guerra na Ucrânia", comentou Francisco Neves, do serviço educativo e mediação cultural da Oficina.
Aerowaves: um importante aliado
No âmbito da rede Aerowaves, da qual a Oficina é membro integrante, haverá três estreias nacionais. A primeira decorre no primeiro sábado do festival (dia 4 de fevereiro), com "Some coreographies", do coreógrafo italiano Jacopo Jenna. A esta segue-se, no mesmo dia, "Gran bolero", do espanhol Jesús Rubio Gamo, outra das seleções do programa. A encerrar o sábado gordo, "Silent disco", do Teatro Meia Volta e Depois à Esquerda Quando Eu Disser.
A terceira seleção Aerowaves será apresentada no dia 10, "Soirée d´études", do belga Cassiel Gaube. Uma coreografia "sobre o circuito house, um dos trabalhos mais votados da última edição do Aerowaves", referiu Rui Torrinha.
A abrir a segunda semana do GUIdance, no dia 8, "um dos mais potentes e lançados coreógrafos nacionais", Marco da Silva Ferreira, que apresenta "Carcaça", para o qual esteve um mês em residência em Guimarães. Vânia Doutel Vaz abre a reta final do GUIdance, no dia 11, com "O elefante no meio da sala".
Como as coisas boas se fazem esperar, a companhia do mítico coreógrafo britânico de origem bangladechiana, Akram Khan, apresenta "Jungle book reimagined", que será, seguramente, um dos pontos altos da programação de dança em Portugal, em 2023. "Uma estreia nacional sobre o regresso à natureza", comentou Torrinha.
Além dos espetáculos a programação inclui duas masterclasses para profissionais com Jesús Rubio Gamo, no dia 2, e da companhia de Akram Khan no dia 9, além dos habituais debates com a jornalista Cláudia Galhós, esta edição sob o tema "Natureza, TRANSformação e outras práticas sensíveis: a felicidade que nos aguarda", nos dias 4 e 11 de fevereiro. O importante programa de mediação cultural contempla também três talks pós-espetáculo, com Henrique Amoedo, Marco da Silva Ferreira e a companhia Akram Khan.
O GUIdance tem também um novo programa de acessibilidade com descontos de 20 a 50%, consoante o número de espetáculos que o público quer ver.