“Taranto aleatorio”, da espanhola La Chachi, foi apresentado esta sexta feira, no Teatro Jordão, em Guimarães.
Corpo do artigo
"Salida", letras, “marcaje e escobillas”, “llanto” e um final por tangos. Para ligar as letras, rematando a “escobilla”, entram as falsetas da guitarra. Esta é a estrutura para montar um baile flamenco por taranto. Sem fugir ao código, mas aplicando a fórmula, temporalmente dilatada, Maria del Mar Suárez – “La Chachi” – e a cantaora Lola Dolores apresentaram no festival GUIdance, em Guimarães, “Taranto aleatorio”.
Formalmente a estrutura está respeitada, mas cenicamente as regras estão desvirtuadas e aqui reside a comicidade. A entrada em cena faz-se com as duas sentadas e de fato de treino: uma enrola um cigarro, a outra cospe sementes de girassol, de cara ao público, como se afinal o espetáculo decorresse na plateia. Montado o momento, o convite está feito para a montanha russa que se segue.
Letras canónicas
Lola Dolores respeita as tradicionais letras de taranto: “Donde andará mi muchacha, hace trés dias que no la veo”. O mesmo com os tangos, em que não se coíbe de entoar as mais canónicas: “Ponte guapa Mariquilla” ou “Ya vienen bajando por la escalera”. Mas, é capaz de entrecortar um “quejío”, com um “ai que já não posso mais”, simulando não ter caixa torácica para semelhante amplitude. Evidentemente tem. Para isso e para muito mais.
Na ausência de guitarra, as falsetas não são obliteradas, com as duas a trautearem as notas, para não se perderem no compasso.
A musical “escobilla” também chega convencionalmente sapateada, mas, com diferentes níveis. “La Chachi” opta por abandonar a verticalidade flamenca, para sapatear deitada, sentada e tudo o que mais lhe apeteça.
Para cortar o travo da dura vida relatada nos tarantos, e como o flamenco é feito dessa ambivalência ciclotímica, de dor com sangue na boca e alegria a extravasar pelos olhos, chega o remate por tangos. As duas vão para o bairro de Triana, em Sevilha, e qualquer pessoa presente vai com elas.
Se em 2024, no Festival Dias da Dança, no Porto, estendeu uma sevilhana “rociera” para “Los inescalables Alpes - buscando a Currito”, este ano veio com tarantos. Esperamos pelos seguintes.