A festa popular que celebrou o início da Capital Europeia da Cultura Guimarães 2012 fez-se no Centro Histórico, convertido em danceteria gigante. Novos e velhos, nativos e estrangeiros, dançaram até ao raiar do dia soalheiro. E a ressaca não esmoreceu o entusiasmo.
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"Nota-se, pelo lixo, que foi uma noite especial". De mangueira na mão desde as 6 horas da manhã, Inácio Gonçalves, da brigada de limpeza da Câmara Municipal, estava ontem a contas com o asseio das ruas que, na noite anterior, foram pisadas por milhares de pessoas na celebração do início da Capital Europeia da Cultura. "Esta noite houve mais lixo do que o normal. Muitos copos de plástico, vidros partidos e coriscas de cigarros", enumerou Inácio Gonçalves, que nem gozou a festa por ter de madrugar. Quem também labutou, mas a noite inteira, foi Luísa Marques.
A dona do bar Infusões, no Largo da Oliveira, atendeu o último cliente às 6.30 horas da manhã. Com satisfação: "Foi uma noite longa. Acho que ninguém estava verdadeiramente preparado para o que aconteceu aqui", frisou.
Notou-se: estóicos sequiosos engrossavam filas intermináveis que tentavam chegar ao balcão dos bares do Centro Histórico, abertos noite adentro. E sair de lá de copo cheio era uma lotaria. "Coño!", cuspiu Javier Casal, galego dos arredores de Pontevedra, quando conseguiu romper por entre a multidão juvenil e sair do bar Taskilhado com uma cerveja, que uma colisão acidental verteu logo ali. Durou pouco, a fúria galega que veio para a CEC: "Hombre, no podia perder una cosa destas".
Sem incidentes
E uma coisa assim era a massa compacta de gente a dançar, no Largo da Oliveira e na Praça de Santiago, consoante as instruções sincopadas dos DJ de serviço, sob as arcadas que dividem as praças. Até Guilhermina Freitas sacudia a alva cabeleira no acompanhamento dos dois netos adolescentes. Festa rija e tranversal, pois, entrecortada por um ou outro carro da PSP a furar entre a mole dançante para efeitos dissuasores. Problemas, coisa pouca: três pessoas não aguentaram a pressão do ajuntamento e sentiram-se mal; foram assistidas no local e devolvidas à festa - até porque, sair dali, exigia certa elasticidade...
A "rave" não ficou circunscrita às duas praças de granito atapetadas de cacos; espraiou-se pelas artérias adjacentes e até à zona do teleférico. Para evitar compressões, no Largo João Franco o Convívio acolhia os refugiados da danceteria improvisada, de onde espreitavam, de quando em vez, a desmontagem do aparato da performance dos Fura Dels Baus no Largo do Toural.
A operação prolongou-se e, quando a manhã raiou, ainda trabalhadores e máquinas devolviam a praça à normalidade. Por lá andava António Magalhães. Madrugador, o edil vimaranense servia de guia turístico a convidados estrangeiros e recordou a véspera. "Estou orgulhoso pela cidade. Foi um dia memorável", disse ao JN. E admitiu que o primeiro dia da CEC "superou todas as expectativas", sublinhando a necessidade dos vimaranenses "sentirem o projecto como coisa deles".