Numa edição que se abriu a diferentes geografias e em que houve lugar para projetos experimentais, as plateias continuaram bem recheadas.
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A 33ª edição do festival de jazz vimaranense com mais portugueses de sempre chegou ao fim, este sábado, com um concerto em que a Orquestra de Guimarães se juntou a um octeto de músicos macedónios, em mais uma das já habituais parcerias improváveis que marcam este evento. O grande auditório do Centro Cultural Vila Flor (CCVF) esteve várias vezes acima dos 80% da sua lotação (800 lugares) e o quinteto liderado por Tommazo Perazzo garantiu momentos inesquecíveis a quem passou pelas jam sessions no Café Concerto do CCVF e no bar do Convívio.
Para guardar na memória dos muitos que assistiram será o regresso, amadurecido, de de Ambrose Akinmusire ao Guimarães Jazz, depois de ter estado no festival, em 2016, na altura como uma jovem promessa. Nas palavras do programador, Ivo Martins: “foi um concerto que só por si valia um festival”. Ambrose trouxe para cima do palco a arte de rua. O compositor casou na perfeição o rap de Kokayi e os drones de Chiquitamagic, com o quarteto de cordas Mivo e o seu trompete, ao ritmo da bateria de Justin Brown.
Outro músico que passou pelo festival enquanto jovem e “fez todo o percurso das jam sessions e da participação nas big bands”, como descreve Ivo Martins, foi John Escreet. Na última sexta-feira, o pianista voltou a Guimarães, com Eric Revis (contrabaixo) e Damion Reid (bateria), para um concerto memorável assente, em grande parte, no último trabalho do trio: “Seismic Shift” (2022). “Vocês têm muita sorte por ter um festival com esta qualidade na vossa cidade”, sinalizou, num dos momentos em que se dirigiu ao público.
Há muitos festivais de jazz
Num balanço ainda provisório, Rui Torrinha, diretor artístico do CCVF, aponta para uma afluência próxima dos anos anteriores. Destaca, no entanto, a renovação de públicos, “com mais jovens e gente com proveniências diferentes, fruto das parcerias do festival com a Sonoscopia, a ESMAE e a Universidade de Aveiro”. Ivo Martins considera que a aposta nos músicos portugueses -“que têm, crescido imenso” - e em projetos menos ortodoxos foi aprovada. “Não é fácil continuar a ter público, ao fim de mais de trinta anos, quando há tanta oferta de festivais do género”, realça.
O derradeiro dia do festival ficou marcado pelo concerto do quinteto liderado pelo pianista Tommazo Perazzo (Marcello Cardillo, bateria, Dylan Band, saxofone, Gavin Gray, contrabaixo e Alexandra Ridout, trompete) que foi conquistando os vimaranenses ao longo das duas semanas do evento, nos momentos arrebatadores que criou nas jam sessions. Ninguém diria que estes cinco músicos só tocaram juntos nestes quinze dias em Guimarães. A fechar, Dzijan Emin conduziu a Orquestra de Guimarães e um octeto de músicos macedónios numa viagem por territórios onde se interceptam influências da música folclórica balcânica e clássica, mas onde também houve espaço para os improvisadores do jazz.