Guimarães será berço da maior orquestra portuguesa
O dia 9 de setembro promete ficar na história da música portuguesa. É a data do concerto da maior orquestra alguma vez criada em Portugal, que já ensaia em Guimarães e vai ter 320 pessoas em palco.
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Até ao grande concerto do dia 9 de setembro, são várias as apostas da Guimarães 2012 para a área da música clássica. As propostas começam nesta semana, quarta e quinta, com dois concertos do violoncelista americano Jed Barahal, na igreja de São Francisco. As cinco suites de Bach e duas inflorescências de Fernando Lopes- -Graça que compõem o concerto têm entrada livre.
Começam hoje os Encontros Internacionais de Música, onde os mais jovens são dirigidos pelo maestro António Saiote, em concertos diários no Centro Cultural Vila Flor (CCVF). Estes encontros são uma experiência de concertos, mas também formativa. Contam com os músicos Gerardo Ribeiro e Yuri Nasushkin (violino), Xavier Gagnepain e Stefan Popov (violoncelo), Eddy Vanoosthuyse e Sauro Berti (clarinete), Vincent Lucas (flauta) e Igor Sulyga (viola d'arco). Também em setembro, numa altura em que muitos vimaranenses vão de férias para o Algarve, a orquestra algarvia faz o percurso inverso. É dia 7, no CCVF, que o maestro Pedro Neves dirige a Orquestra do Algarve e o solista de trompa Todd Sheldrick. Este concerto marca o encerramento da 10.ª temporada daquela formação.
Vêm de todos os cantos do país e integram a operação "Big Bang", designação dada à aventura da Capital Europeia da Cultura que consiste em bater o recorde de maior orquestra de sempre em Portugal.
Os 50 minutos de concerto estão a ser preparados há um mês. Entre os músicos, há os profissionais, os que nunca pisaram um palco, os que "só" sabem cantar e os que nem isso, mas levam a caixa das festas nicolinas e entram no grupo da percussão.
O objetivo é provar que a idade ou o grau de técnica instrumental pouco contam, pois "toda a gente pode ter uma participação artística válida e desafiante", sublinha Ricardo Batista, coordenador do projeto .
As três centenas de músicos vão ser conduzidas pelo maestro britânico Tim Steiner, especialista na direção de orquestras colaborativas. A expectativa é elevada pela dimensão da aventura, que obrigou a prever dificuldades igualmente gigantescas. A principal foi o local do concerto. Foi escolhido o Parque da Cidade, espaço amplo com piso relvado.
Houve também a impossibilidade de ensaiar em horários propícios aos 320 participantes. Deu-se azo ao poder da Internet e cada músico ensaia o repertório em casa, que está alojado no site Youtube. O ensaio geral é na manhã do dia 9.
Os participantes têm, na maioria, entre 18 e 30 anos, mas há muitas crianças e famílias inteiras. Participam músicos de todos os tipos e idades: há grupos de percussão organizados, coros religiosos, bandas de garagem, professores de música e amadores à procura da primeira experiência.
Torná-los uníssonos é o desígnio. Por isso, o repertório foi criado "com a preocupação de ser para pessoas que possam ter pouca experiência ", adianta o responsável. O conjunto de músicas, originais, é da autoria do maestro e líderes de naipe.
Cerca de 50% do repertório já está e ensaiado, o resto "vai ser criado no próprio dia com a orquestra". Antevendo o que será o dia 9, Batista acrescenta à vertente musical a lírica, tendo por base as tradições de Guimarães .
A menos de 15 dias do concerto, há questões que não podem ficar para o último momento e a maior dor de cabeça prende-se com a difícil logística. Por exemplo, as 30 guitarras elétricas que vão participar "podem trazer amplificadores de 500 watts ou 15, o que faz toda a diferença em termos de som", assume. Assim, pensou-se no que era essencial e prepararam-se os imprevistos com instrumentos de reserva. No entanto, mantinha-se o problema de como colocar mais de 300 pessoas num só palco. "Um palco onde caibam 300 pessoas é gigantesco, há poucos em Portugal. Sabíamos de antemão que a divisão do espaço seria um problema, e preparámos isso também", esclarece.