Realizador Jorge Cramez estreia esta quinta-feira "Sombras", com Victoria Guerra e Pedro Peralta no elenco.
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O Fantasporto primeiro, na década de 1980, e já neste milénio o MotelX, em Lisboa, vieram mostrar que se há género com um público largo e fiel é o fantástico, na sua conceção mais lata. Tal será aliás fácil de comprovar quando, nas listas de estreias e, sala, não há praticamente uma semana em que não surja um filme deste género.
O efeito destes festivais, sobretudo o último, numa época em que o digital, para o bem e para o mal, veio democratizar a produção de cinema, é que o cinema português tem acordado também para este género. "Sombras" não é aliás o primeiro filme de Jorge Cramez que se inscreve nessa linha, depois de algumas curtas produzidas precisamente para os apetecíveis concursos do MotelX.
Chegado agora às salas, deparamo-nos com um drama psicológico que arranca após um jovem casal, recém chegado a uma pequena comunidade alentejana, aceita a guarda por uma noite da filha de um vizinho. Como se deve imaginar, e o filme não o esconde, há algo que se vai passar a partir dá, e é esse o convite para que o espetador de cinema vã à sala, se gosta de ser surpreendido.
Cramez transporta a sua cinefilia e a sua experiência de trabalho com alguns dos mais importantes realizadores portugueses para esta sua nova longa-metragem, contando com a cumplicidade de Victoria Guerra e Pedro Peralta no credível casal do filme. "Sombras" transforma-se aos poucos numa viagem sombria sobre a maternidade, polvilhado com alguns códigos habituais no cinema de género, a criança como símbolo do mal, a natureza, a bestialidade.
Além dos seus valores, "Sombras" é também um objeto raro num cinema português onde na maior parte dos casos os realizadores adaptam os seus próprios guiões. Aqui, parte-se de um argumento de Rita Bénis, que se coloca como uma rara argumentista de vocação, e que Cramez defende como se fosse seu.