Primeiro documentário sobre Henrique Alves Costa vai ser exibido dia 14 no Batalha Centro de Cinema, no Porto.
Corpo do artigo
A Sétima Arte era a primeira de todas as artes para Henrique Alves Costa (1910-1988), nome histórico do cinema português cujo percurso é agora evocado num documentário que vai ser exibido pela primeira vez no próximo sábado, às 19.15 horas, no Batalha Centro de Cinema, no Porto.
Realizador de “Henrique Alves Costa, cinéfilo inconformista”, o jornalista Manuel Vitorino quis, através do filme, prestar homenagem “a uma personalidade ímpar” que contribuiu, através da sua ação, para a formação de muitos apreciadores de cinema. A começar por si próprio. “Tinha 18 anos quando o conheci, ao inscrever-me como sócio no Cineclube do Porto (CCP). Era um homem com um raro saber. Um pedagogo que, além de ter uma integridade à prova de bala, era também um exímio contador de histórias”, sustenta.
Os 12 anos à frente do CCP, ao longo dos quais ajudou a fazer deste cineclube o maior da Península Ibérica, seriam, à partida, suficientes para garantir o seu lugar na posteridade. Mas a ação de Alves Costa cobriu também a divulgação crítica incessante durante meio século em inúmeros periódicos (incluindo o “Jornal de Notícias”) e a programação de ciclos de cinema em espaços como o Batalha, Passos Manuel ou o Museu Soares dos Reis.
O contributo mais decisivo terá acontecido em dezembro de 1967. Com a sua vasta rede de contactos, organizou quase sozinho a Semana do Novo Cinema Português, que reuniu os então jovens cineastas António-Pedro Vasconcelos, Lauro António ou Paulo Rocha, além de figuras como Júlio Resende, José Régio e Sophia de Mello Breyner. Movimento de rutura entre o velho e o Novo Cinema Português, o encontro seria decisivo para a implementação de um novo modelo de financiamento do audiovisual nacional, levando José Fonseca e Costa a afirmar, anos mais tarde, que “Henrique Alves Costa inventou-nos a todos”.
Autodidata das imagens
Com depoimentos de Alexandre Alves Costa (filho), Álvaro Siza Vieira, António Roma Torres e André de Oliveira e Sousa, “Cinéfilo inconformista” capta, nos seus 20 minutos de duração, as diversas facetas de um autodidata das imagens que fez questão de nunca depender economicamente do cinema, mantendo quase até ao fim da vida o seu pequeno escritório de despachante oficial na Alfândega do Porto.
“Certa vez, Alves Costa recebeu do então instituto do cinema um pequeno subsídio para uma homenagem ao seu grande amigo Manoel de Oliveira. Como, após ter feito a impressão dos cartazes, lhe sobrou parte do dinheiro, fez questão de ir a Lisboa devolver a verba restante. Era esta a sua estirpe”, recorda o realizador.
Já selecionado para o festival Curtas de Vila do Conde e com outras exibições em aberto, o documentário é um primeiro passo para “o tributo que está ainda por fazer”, até porque o centenário do seu nascimento, em 2010, passou em claro.
Autor de uma tese de mestrado sobre o cineclubista, Manuel Vitorino sugere a reedição dos seus livros, há muito esgotados, como forma de aproximar o seu nome das novas gerações, mas também a organização de um ciclo de cinema com os filmes de eleição do homem que, um ano antes da sua morte, disse numa entrevista ao JN: “Fiz coisas espantosas, mas sem dar por elas”.