Não se esperam muitas surpresas este domingo, em Hollywood, EUA, na entrega dos Oscars. "Argo" deverá ser o melhor filme, numa noite em que a história da América, recente e longínqua, vai estar em destaque.
Corpo do artigo
Temos um episódio no mandato de Abraham Lincoln, em tempo de Guerra Civil e pouco antes do seu assassinato, e uma visão não oficial sobre a escravatura. E há a recriação de dois episódios mais recentes da história dos Estados Unidos: o resgate dos funcionários da embaixada norte-americana em Teerão, capital do Irão, nos dias que se seguiram à revolução de 1979, e a busca e a operação de liquidação do inimigo número 1 da América, Bin Laden.
Através de algum do melhor cinema feito no passado ano civil, e que agora a Academia evoca e premeia, os americanos revisitam a sua própria história. Uma das funções do cinema que, sem perder de forma alguma a sua dimensão de espetáculo, cumpre ainda uma missão social, talvez mesmo política, que não se deve renegar, quando leva a assinatura de gente com a dimensão intelectual de Steven Spielberg ou Quantin Tarantino, Kathryn Bigelow ou Ben Affleck.
Sim, este terá entendido as suas limitações enquanto ator. Há dias, em Berlim, na Alemanha, o seu amigo e sócio Matt Damon revelou que Affleck se terá apercebido da necessidade de mudar de rumo quando começou a vender mais revistas do que bilhetes de cinema. E aí está "Argo" para confirmar a justeza dessa sua inflexão de carreira, tornando-se um realizador respeitado e mais do que provável autor do vencedor do Oscar de Melhor Filme do Ano.
Na realidade, com a profusão de outros prémios que antecedem a cerimónia dos Oscars, perdeu-se muita da magia e da surpresa da noite de que hoje vamos assistir à 85.ª edição, sobretudo quando os resultados são sempre os mesmos. E "Argo", entre a evocação séria de um episódio verídico da história recente e o seu olhar crítico sobre a própria Hollywood, não tem dado hipóteses aos seus mais diretos adversários.
O mesmo se tem passado, aliás, em outras categorias, em que o Oscar parece já estar entregue, como de Melhor Ator (Daniel Day-Lewis como Lincoln) ou Melhor Atriz Secundária (Anne Hathaway, o melhor de "Os miseráveis").
Ficam, assim, enquanto território possível de palpites e especulações, áreas como as de Melhor Actriz - conseguirá a veterana Emmanuelle Riva bater as antes favoritas Jessica Chastain e Jennifer Lawrence - e, sobretudo, Realização, para a qual a Academia se esqueceu de nomear Ben Affleck, deixando assim no ar a questão: será Spielberg ou Tarantino a erguer esta estatueta?
Apresentador polémico?
Nada melhor do que esperar mais umas horas e ver como decorre a cerimónia. Apesar do registo mais ou menos económico das últimas edições - a crise chega a todo o lado -, há uma enorme expectativa em torno do novo apresentador. Até que ponto o multifacetado Seth McFarlane, produtor e criador da série "Family Guy", conseguirá ser politicamente incorreto? Poderão ser da sua responsabilidade algumas das maiores surpresas da noite.