"Histórias de Ar-Men", o farol de mais difícil acesso do mundo, é a nova aventura em banda desenhada do francês Emmanuel Lepage.
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"No fim deste baixio gelado, um fuste de 29 emerge das vagas. Ar-Men. O nome bretão do rochedo onde foi erigido. É o farol mais exposto e de mais difícil acesso da Bretanha. Ou seja, do mundo. Chamam-lhe "O inferno dos infernos"".
Fica localizado na Finisterra, sobre um pedaço de rocha com 12 metros de largura por 19 metros de comprimento, pelo menos quando o mar está calmo, que lhe permite estar a descoberto.
Emmanuel Lepage, que se notabilizou fundamentalmente em reportagens desenhadas e retratos de locais como este, bastante isolados e inóspitos, em que os humores da natureza desafiam o ser humano, em "Ar-Men - O inferno dos infernos", recentemente lançado pela editora Ala dos Livros, traça um retrato de um lugar que é simultaneamente mágico e terrível, onde se congregam lendas e histórias. E História.
Lendas com fundo de verdade e os fantasmas pessoais dos protagonistas, histórias com pontos acrescentados de ficção e a História da sua lenta e difícil construção, ao longo de mais de uma dúzia de anos no século XIX, ao ritmo exasperadamente lento de poucos minutos por dia, nos dias em que tal ainda era possível, num constante desafio às ondas que regularmente varriam aquela área.
Conjugadas, fundidas, criam um imaginário que é, a um tempo, realista e fantástico, que alimenta sonhos, vidas ou as simples rotinas diárias dos que tinham por missão maior manter aceso diariamente o farol, para servir de guia a quem navegava por aquelas águas perigosas.
Assente num desenho realista, simultaneamente sóbrio e exaltante, e num fabuloso trabalho de cor que se supera na representação das tempestades e no encarniçamento do mar contra as frágeis construções humanas, o criador francês Emmanuel Lepage arrasta-nos do sofá em que confortavelmente lemos, para a altaneira galeria do farol.
Ali, o farol é batido pelo vento ululante e acossado pelas vagas incansáveis que se despenham sobre ele uma e outra vez, numa raiva incontrolável, como que dizendo que aquilo lhes pertence, que os homens estão a mais naquele local, onde se misturam sem se tocarem, embora se abracem loucamente, crenças, vários tipos de fé e ecos de muitos passados.