Em 2019, a UNESCO instituiu que a 25 de outubro se celebraria o Dia Mundial da Ópera, assinalando a data de nascimento de Georges Bizet e de Johann Strauss II. Em Portugal e internacionalmente decorrem várias iniciativas para que se possa imbuir desta arte.
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Um estudo do organismo Opera Europa, do qual fazem parte os projetos portugueses Fundação Calouste Gulbenkian, Ópera do Castelo e Teatro Nacional de São Carlos, feito o ano passado, revelou importantes conclusões sobre o mundo europeu da Ópera.
A indústria europeia de Ópera gerou perto de 10 mil milhões de euros. O ano passado foram apresentadas 20 mil récitas, de 3.500 produções de 1000 títulos e foram vendidos 13 milhões de bilhetes para produções operáticas na Europa. Sobre as estatíticas de emprego, 65% das companhias têm os seus cantores a contrato, bem como 60% dos músicos. 33% das companhias investem em programas de jovens artistas e 68% das companhias europeias criam os seus próprios figurinos. As companhias de ópera europeias deram emprego a 200 mil pessoas, em 2022.
Em Portugal a efeméride também será assinalada ao vivo. Lisboa decorre esta quarta-feira o lançamento do livro "Callas e os Seus Duplos", da autoria de João Pedro Cachopo. O livro da editora Sistema Solar/Documenta será apresentado por António Guerreiro e Catarina Molder. A iniciativa está agendada para as 17 horas, na Sala Mário Viegas, do Teatro São Luiz, em Lisboa.
A companhia Mala Voadora aproveitou a data para apresentar o seu novo espetáculo, "It´s not over until the soprano dies", uma ópera feminista. "Muitas óperas terminam com mulheres a morrer. Elas brilham no palco, cheias de carisma, e depois morrem quase sempre vítimas da sua relação com homens-seja porque estes as matam, seja porque o amorque eleas lhes devotam as conduz à morte. E o público aplaude. Aplaude o virtuosismo das cantoras, a qualidade da música e, com isso, a morte a que elas são sujeitas", escreve a companhia anunciando que o mesmíssimo Teatro S. Luiz será o palco de estreia, no dia 12 de janeiro.
Para ver ao vivo no Porto
O S. Luiz foi também o teatro onde estreou a ópera de câmara "Na Colónia Penal", do norte-americano Philip Glass, baseada no texto de Kafka, e que estará em cena esta quarta-feira, no Coliseu do Porto, e promete ser uma "obra de arte total", disse o maestro Martim Sousa Tavares.
"A criação da ópera nasce muito da história de amizades dos artistas, conheci o Martim Sousa Tavares (maestro) antes da pandemia e o Miguel Pereira (coreógrafo) é alguém com quem trabalho há mais de 20 anos, na Rumo de Fumo", contou ao JN, Miguel Loureiro, encenador.
A ideia original do projeto era criar "O pequeno burguês" de Moliére. Mas depois "decidimos atirar a outro compositor John Adams, uma ópera pequena muito politizada, mas que trazia muitas dificuldades no elenco". Então, "em conversas de café, como sou um apaixonado por ópera, pareceu-me muito interessante ligar a literatura de Kafka com a música de Philip Glass, com quem até tenho algumas reservas em óperas maiores", confessou Miguel Loureiro.
A construção do projeto foi "muito pacífica, o Miguel tratou dos corpos em movimento; o Martim dos músicos de câmara e da oxigenação da orquestra. Tudo como deve ser". Não se tratando de um projeto de teatro ou de música estricto, o jogo foi muito maior. "Os cantores líricos, pensam sempre primeiro na técnica e no canto e muitas vezes tendem até ao exagero, ao excesso de lirismo, portanto é muito importante o processo das linhas dramatúrgicas", explicou Miguel Loureiro.
O resultado "obedece ao lado sombrio, como as máquinas de castigo de Kafka, um terror irreal e psicológico", acrescenta Loureiro. O espetáculo terá hoje récita única, às 21 horas, no Coliseu Porto Ageas.
Internacionalmente, também várias instituições decidiram celebrar o dia. A Ópera de Paris assinala a efeméride, mostrando os bastidores da produção "Lohengrin" de Richard Wagner, na plataforma Paris Opera Play.
Também a Royal Opera House, de Londres decidiu mostrar cenas dos bastidores das suas maiores produções como "Rigoletto".